Os membros da banda baiana ÀTTØØXXÁ, que se apresentaram domingo (21) na Virada Cultural de Belo Horizonte, se irritaram com os quadros que decoravam seus quartos em um hotel na capital mineira. As telas com o tema do período Brasil Colônia lembravam a escravização. Em uma das pinturas aparece, inclusive, um homem levando chibatadas.
Em vídeo publicado no Instagram dos integrantes os mesmos tiraram os quadros e colocaram para fora dos dormitórios. “Insulto à nossa raça, é o que está acontecendo nesse hotel aqui. A decoração é a escravidão”, denunciaram os artistas. As postagens mostram ainda o momento em que eles retiram as telas das paredes: “A gente está tirando essa desgraça toda” e um dos membros do ÀTTØØXXÁ chega a chutar o quadro.
Após a repercussão os integrantes da banda publicaram no perfil oficial do ÀTTØØXXÁ um esclarecimento de que nada foi danificado e só tomaram a atitude de remover os quadros depois que o hotel informou que só poderia fazer essa remoção após envio de e-mail. Devido a negativa imediata e pelas imagens ofensivas, decidiram que não iriam continuar no quarto com os quadros e colocaram do lado de fora.
A assessoria de imprensa da banda confirmou a situação e reforçou que eles ficaram “consternados e se sentiram extremamente ofendidos e abismados com a exploração do uso destas imagens, que alimentam o racismo estrutural ao qual estamos submetidos”.
A assessoria de imprensa da Virada Cultural afirmou que foi a própria banda quem escolheu ficar no hotel e que, em nenhum momento, a prefeitura teria interferido na decisão.
Em nota a assessoria do Hotel Dayrrell informou “lamentar que alguns hóspedes tenaham se sentido ofendidos com certas gravuras inspiradas na obra de Debret”.
O artista francês Jean Baptiste Debret (1768-1848) veio ao Brasil em 1816 integrando a Missão Francesa, uma iniciativa de Dom João VI para criar uma academia de formação de artistas no então vice-reino da coroa portuguesa. Ele pintou imagens da violência que é desumanizar alguém como escravo.
Do ponto de vista de registro histórico, essas obras são importante como um retrato daquele tempo, já que muitos registros sobre a escravidão foram destruídos. Mas concordo com a banda que, por mais relevância que a obra tenha, ela não é uma decoração para um quarto. Poderia ser uma exposição no hall do Hotel e até um ganho para trazer outras obras que valorizem a cultura negra, e não apenas esse momento deplorável da nossa história.