O bailarino e ator Thiago Menezes, de 38 anos, celebra uma década de carreira na França vivendo um dos momentos mais marcantes de sua trajetória: ser o único dançarino latino-americano na temporada do clássico Aida, de Giuseppe Verdi, em cartaz na Ópera de Paris até o dia 4 de novembro.
Natural de Quintino, na Zona Norte do Rio, Thiago começou a dançar ainda criança e percorreu companhias e escolas como o Centro de Dança Rio, Cia Nós da Dança e Petite Danse, além de se formar ator na Escola de Teatro da Faetec. Desde 2016, mora em Paris, onde atua em produções de teatro e dança contemporânea.
“Ser preto e do subúrbio do Rio me moldou como artista. As mulheres pretas, mães, tias, avós, são minha base estética e emocional. Tudo o que eu sou vem dessas referências. Eu carrego o subúrbio em cada gesto, em cada criação”, conta o artista, que afirma não se esquecer da sua origem, mesmo em meio ao universo elitizado das artes europeias.

Thiago explica que sua presença na Aida é resultado de uma seleção que reuniu artistas de diversos estilos. “Eu não sou um bailarino clássico, sou formado em jazz e hip-hop. Essa montagem buscou unir linguagens diferentes, e isso é o que mais me representa. Ver um brasileiro negro naquele palco, dançando com liberdade, tem um valor simbólico enorme.”
Apesar do orgulho, ele admite o peso da solidão. “Não queria ser o único. Quando percebi que era o único latino e o único negro da produção, senti alegria, mas também uma responsabilidade enorme. Às vezes, é violento ocupar esse lugar sozinho. Queria ter mais colegas brasileiros e latinos comigo, dividindo esse espaço.”
O bailarino também reflete sobre as diferenças entre Brasil e França no debate racial. “No Brasil, depois de muita luta, avançamos nas discussões sobre representatividade. Aqui ainda é tudo muito branco, os palcos, o cinema, a técnica. No ano passado, de dez trabalhos que fiz, em oito eu era o único negro”, revela.

Mesmo assim, Thiago segue otimista e inspirado. “Eu acredito que ainda vamos ver mais brasileiros e brasileiras negras ocupando palcos como o da Ópera de Paris. A gente vem de um lugar de potência, e é isso que me move. Eu sou o que sou por causa das ruas do Rio, elas me fizeram um artista plural.”
De Quintino à Bastille, Thiago Menezes transforma sua história em um símbolo de resistência, talento e orgulho. Um corpo negro que dança não só por si, mas por todos os que ainda virão.
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