Mais do que permitir se conectar com o seu talento, para o ator Edmundo Vitor, o teatro abriu as portas para que o jovem nascido e criado na cidade de Cipó, interior da Bahia, tivesse o seu primeiro contato com as questões raciais que envolvem ser um homem negro.
“Foi no teatro que participei do meu primeiro grupo de pesquisa voltado para as questões pretas, o coletivo ‘Orquestra de Pretos Novos’. Foi onde pude aprender e expandir o meu olhar sobre as diversas questões que estão envolvidas não só nas artes, mas em toda a nossa cultura brasileira”, lembra.
Em cartaz no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, com o espetáculo ‘Textos cruéis demais – Quando o amor te vira pelo avesso’, Edmundo dá vida a Pedro, um jovem sensível que luta para superar o fim de um tórrido relacionamento amoroso.
Para o ator, protagonizar a obra escrita e dirigida pelo jornalista e roteirista Carlos Jardim, em um momento no qual a arte vem dando mais oportunidades para artistas negros – na TV tem as novelas ‘Vai na Fé’, ‘Amor Perfeito’ e ‘Terra e Paixão’, além da série ‘Encantados’, todos com protagonistas negros, e no cinema, o filme ‘A Pequena Sereia’- tem um grande simbolismo.
“Esta ascensão negra é mais do que necessária. Vivemos em um país diverso e essa diversidade deve estar presente em todos os setores e camadas da sociedade. A desigualdade em termos raciais e econômicos ainda é gigantesca e isso não muda da noite para o dia, principalmente com uma história de formação como a nossa. Por isso é preciso, sim, cada vez mais ter novas oportunidades e mais visibilidade”.
Baiano de corpo, alma e coração, Edmundo, ainda hoje, lembra bem dos tempos que morava no Nordeste e já se sentia inspirado em seguir o caminho das artes.
“Cresci ouvindo muitas histórias e vivenciando a cultura nordestina da melhor forma possível, com muita diversidade na culinária, festas típicas, brincadeiras e apresentações escolares. Desde muito novo, eu já respirava arte, e sempre me senti muito incentivado na escola a olhar as atividades artísticas com amor. Acho que a vivência da cultura na minha cidade de certa forma me ensinou a sonhar, e, principalmente, a não ter medo. Desde novinho fazia curso de desenho, adorava dançar, cantar e tinha um encantamento pelas novelas, filmes e desenhos que passavam na TV”.
Brilhando nos palcos, o artista acredita que assim como as pautas raciais, aquelas que tratam das questões sociais também precisam ser trabalhadas no campo das artes. “Um espetáculo como o nosso, que fala de homossexualidade em tempos de tanta homofobia, é sempre um ato de resistência e de luta. Ainda é necessário falar do óbvio, porque muitas pessoas estão cegas pelo ódio. Vivemos em um país extremamente complexo, marcado por uma colonização absurdamente agressiva, as marcas desse sistema estão impregnadas em todas as camadas sociais. Então, trazer essas questões no espetáculo se faz necessário como ferramenta de resistência, e continuará sendo necessário enquanto não houver respeito”, finaliza Edmundo.
FICHA TÉCNICA
‘Textos cruéis demais – Quando o amor te vira pelo avesso’
Realização: Noticiarte Produções
Texto e direção: Carlos Jardim
Elenco: Edmundo Vitor e Felipe Barreto
Assistente de direção e direção de movimento: Flávia Rinaldi
Direção musical, trilha original e arranjos: Liliane Secco
Direção de produção: Gaby de Saboya
Produção: Leila Alvarenga
Cenário e figurinos: Marieta Spada
Iluminação: Fernanda Mantovani
Operador de luz: Thiago Montavani
Operadora de Áudio: Consuelo Barros
Contrarregra: Ildemir Jr.
Assessoria de Imprensa: Approach Comunicação
Social Media: Clara Corrêa
Controller Financeiro: Fernanda Lira
Assessoria Jurídica: Berenice Sofiete
Designer Gráfico: Alexandre Furtado
Fotógrafo: Carlos Costa
Livremente inspirado no livro de poemas “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”, de Igor Pires
Serviço:
Textos cruéis demais – Quando o amor te vira pelo avesso
Local: Teatro Café Pequeno (Avenida Ataulfo de Paiva 269, Leblon)
Data: De 8 a 23 de julho
Horário: Quinta a sábado: 20h
Domingo: 19h
Ingressos: R$50 (inteira) | R$25 (meia-entrada).
Duração: 60 minutos
Classificação: 16 anos
Leia também: Espetáculo “Hora do Blec – Sonhos” fará apresentações gratuitas em arenas cariocas