Luhan Gaba reconta histórias de personalidades negras importantes pelos muros do ES. Zacimba Gaba e Nina Simone já foram homenageadas nos murais do artista
Luhan Amorim dos Reis, conhecido como Luhan Gaba – em homenagem e referência ao sobrenome da princesa guerreira que foi sequestrada e escravizada no norte do Espírito Santo, Zacimba Gaba – decidiu colocar a carreira de artista em primeiro plano há seis anos. Luiz Inácio Silva Rocha, o Lula Rocha, morreu aos 36 anos em decorrência de complicações renais no dia 11 de fevereiro deste ano. O mural em homenagem ao ativista ficou pronto na última semana e chama a atenção de quem passa pelo Centro. A pintura fica na Vila Rubim, histórico ponto comercial de Vitória, capital do Estado, e foi feita em parceria com o artista Starley Bonfim.
“Acredito que nossos ancestrais são eternos enquanto são lembrados pelos que estão vivos. Então, acho importante manter imagens fortes e positivas dos nossos pelos muros da cidade”, conta o artista.
Lula Rocha foi ativista do Movimento Negro e Direitos Humanos no Espírito Santo. Ele era presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos e do Fórum da Juventude Negra no ES (Fejunes). Lula Rocha também estava à frente da AfirmaAção, rede de ensino voltada para jovens residentes na periferia, e era membro do Círculo Palmarino, corrente nacional do movimento negro. Ligado ao samba e ao carnaval, fundou o bloco de rua Afro Kizomba junto com o pai, Izaías Santana.
“Lulinha, como era carinhosamente chamado por seus familiares e amigos próximos, deixa um legado imensurável […] Uma perda inesquecível para as lutas políticas e sociais do Espírito Santo, o Brasil e para seus familiares e amigos que o amam”, declarou o Círculo Palmarino, em nota divulgada nas redes sociais.
As mãos que desenham histórias
Luhan Gaba vive da arte há seis anos, mas a produção do artista foi afetada pela Covid-19. “A produção caiu bastante na pandemia por questões pessoais, foi complicado manter o ritmo”, conta. Além das adversidades impostas pela pandemia, a classe artística negra também sofre com a escassez de investimentos.
Segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais publicado em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,7% dos artistas brasileiros são pretos ou pardos. Ainda de acordo com o instituto, negros compõem cerca de 56% da população brasileira e representam mais de 53% de pessoas com alguma ocupação no país. Mesmo sendo maioria na população e na população ocupada, patrocínios e programas de investimento não acompanham na mesma proporção.
Além da lentidão da aprovação da assistência financeira aos trabalhadores da cultura durante a pandemia através da Lei Adir Blanc, que só chegou em setembro do ano passado – seis meses após o início da pandemia -, o patrocínio oferecido por grandes marcas de bebidas alcoólicas e aplicativos de carteiras digitais eram garantidos nas transmissões de cantores como Gusttavo Lima e a dupla Bruno e Marrone. O mesmo não acontece com artistas negros. O primeiro patrocínio da cantora Teresa Cristina foi oferecido em Maio de 2020. Vale ressaltar que a cantora está na estrada faz tempo: sua carreira começou nos anos 90.
Além dos murais, Luhan Gaba realiza trabalhos comerciais para manter a renda e afirma que não separa a arte da militância. “Para mim, elas andam de mãos dadas. Eu tenho um acordo comigo: para cada trabalho comercial, faço um autoral na rua depois. É uma forma de agradecimento e reconhecimento por poder continuar vivendo de arte”, revela o artista.