A escritora Ana Maria Gonçalves tomou posse, nesta sexta-feira (7), na cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar um assento na instituição fundada em 1897. A cerimônia aconteceu no Petit Trianon, no Centro do Rio de Janeiro, e marcou um capítulo histórico na luta por representatividade na literatura brasileira.
Autora de obras fundamentais como Um Defeito de Cor, romance que reconstrói a experiência negra no Brasil a partir da perspectiva de uma mulher africana escravizada, Ana Maria sucede o linguista Evanildo Bechara, falecido em maio. Aos 54 anos, ela é também a acadêmica mais jovem entre os atuais membros.

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A escritora foi recebida por Lilia Schwarcz, que destacou o impacto de sua produção literária na compreensão da identidade, da memória e das diásporas africanas. O fardão utilizado na posse foi confeccionado por integrantes da Portela, escola que teve Um Defeito de Cor como enredo no Carnaval de 2024, simbolizando a relação entre arte, ancestralidade e história.
Em seu discurso, Ana Maria lembrou que a presença de mulheres negras na ABL sempre foi impedida por estruturas de exclusão. “Durante décadas, muitas de nós fomos silenciadas ou consideradas incapazes de ocupar este lugar. Minha eleição é resultado de um processo coletivo de reivindicação e resistência”, afirmou.
Ela citou a candidatura de Conceição Evaristo, em 2018, como um marco que obrigou a ABL a olhar para sua própria homogeneidade. Também lembrou que Machado de Assis, fundador da Academia e um dos maiores nomes da literatura mundial, teve sua negritude negada por muito tempo.
“Somos poucos diante do tamanho do trabalho de reconstruir imaginários. Mas estamos aqui. E vamos continuar”, declarou, sob aplausos emocionados.










