Exposição “Um oceano para lavar as mãos” valoriza o protagonismo negro nas artes e ocupa o Centro Cultural Sesc Quitandinha

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Espaço dedicado à promoção da cultura e com uma programação voltada exclusivamente à arte em todas as suas linguagens e formas de expressão, o Palácio Quitandinha, em Petrópolis, apresenta ao público a exposição “Um oceano para lavar as mãos”, com entrada franca. O espaço, que já funcionava como uma Unidade Sesc RJ, agora é oficialmente chamado de Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ), um polo de expressão cultural na Região Serrana do Rio de Janeiro.

E essa, que é a primeira exposição do recém-inaugurado centro cultural, reúne 40 obras, que juntas propõem novas leituras a respeito da História do Brasil, com base no olhar de curadores e artistas negros e suas produções potentes e em diálogo com debates da sociedade contemporânea. 

Exposição “Um oceano para lavar as mãos”, no Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio /Foto: Clara Miloski

A exposição “Um oceano para lavar as mãos” fica em cartaz até 17 de setembro e conta com obras dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Cipriano, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. 

O artista plástico Cipriano, que expõe peças que fazem parte de uma série batizada por ele de “Macumba Pictórica”, explica a proposta de sua obra, que ocupa o espaço fazendo referência à determinadas práticas culturais em terreiros de umbanda. Ele diz que tem a palavra macumba “como ativadora”.

“A Macumba neste trabalho surge como um motivo criativo para se pensar em uma arte afrodescendente, que tem um traço-afro-contínuo, poético-político ancestral, para fazer um pensamento-desenho afro, que dão pistas para pensar maneiras de lidar com as identidades negras no Brasil”, explica o artista, que ainda conta que os materiais usados nas obras (carvão, grafite, água, pemba) e as imagens ilustradas (orixás e entidades) o ajudam a desenvolver essa proposta. 

Além disso, o que ele chama de “Macumba Pictórica” é a “relação entre o fazer artístico e o pensamento ancestral”, segundo o artista, que continua desenvolvendo, com detalhes, as características de suas criações artísticas. 

A plasticidade dos cantos, aforismos, que acaba por contar uma história de resistência e força dos povos sequestrados de África, reside em uma tentativa de criar uma escrita que vai de encontro ao que foi imposto. Uma escrita pictórica, uma riscadura, retomando Valentim – pintor construtivista brasileiro – que dá forma a uma ideia de ser, a um som de viver”, acrescenta Cipriano. 

O artista garante que trabalhar com arte no Brasil não é fácil, sobretudo sendo negro e falando sobre a ancestralidade. Ele destaca a importância de ter nesse espaço uma exposição que aborda o tema. “Ser preto, falando de preto, levantado histórias pretas faz diferença”, diz ele, acrescentando que a oportunidade dada pelo Sesc RJ fomenta a cultura na região.

A exposição, cujo nome foi retirado de um verso da música “Meia-noite” (1985), de Chico Buarque e Edu Lobo, tem como curador-geral Marcelo Campos, que assume esse papel ao lado de Filipe Graciano. 

De acordo com Marcelo, o conceito da exposição é “refletir sobre os usos e os pensamentos que envolveram e envolvem a relação da diáspora africana e como isso se reflete na arte contemporânea”, que ele considera “superimportante” diante dos problemas que ainda atravessam essa população. 

Público prestigia a exposição “Um oceano para lavar as mãos”: 40 obras que propõem uma nova leitura da história do Brasil /Foto: Clara Miloski  

“Um mar, um oceano, onde muitos lavaram as mãos, em sentido duplo, é ambíguo. Se ainda vivemos em uma sociedade racista, pouco foi feito para a igualdade racial. Contudo, este mesmo mar nos traz as divindades que nos ajudam a limpar e expurgar tanta desumanidade. Com base nessas observações, constrói-se coletivamente a exposição“. É como ambos os curadores definem o projeto. 

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O curador também destaca a relevância de tratar desse tema na cidade que tem “um imaginário imperial que, muitas vezes, invisibiliza a população negra local”. Marcelo diz ainda que um público bem amplo tem prestigiado a mostra, que promove também atividades para as crianças.

“O público tem recebido a exposição deste modo: interagindo, observando e ficando orgulhoso ao ver uma ação assim em Petrópolis“. Para finalizar, ele enfatiza a importância do trabalho desenvolvido pelo Sesc RJ.

“A abertura do centro cultural foi de suma importância. O Sesc talvez seja hoje a instituição de maior penetração cultural em todo o Brasil, chegando a lugares longínquos, onde, às vezes, só a instituição é o equipamento de cultura e arte local”.

Visitação 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, além de oferecer a visita mediada à exposição “Um oceano para lavar as mãos”, também apresenta uma programação plural, democrática e inovadora ao longo do ano, com shows, espetáculos e passeios culturais, tecnológicos, literários, entre outras ações.  

Além de arte, o centro cultural oferece aos visitantes dois locais para uma pausa gastronômica ao longo do passeio: o Q Café e o Q Bistrô. E, para quem quiser permanecer na região e estender o passeio por mais de um dia, a dica é ficar hospedado no Hotel Sesc Nogueira, em Petrópolis.  

A visitação ao Centro Cultural Sesc Quitandinha funciona de terça a domingo, das 9h30 às 17h, com entrada gratuita. 

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