O Reino Unido registrou em 2024 o menor número de enfermeiras, parteiras e auxiliares de enfermagem estrangeiras admitidas no Conselho de Enfermagem e Obstetrícia (NMC) nos últimos cinco anos. Apesar do total recorde de 860.801 profissionais registrados no país, o ingresso de trabalhadoras internacionais caiu 49,6% em comparação ao mesmo período do ano passado, uma mudança que especialistas associam ao endurecimento das políticas migratórias e ao racismo crescente enfrentado por profissionais negros e de países do Sul Global.
Entre abril e setembro, apenas 6.321 profissionais estrangeiros ingressaram no registro, ante 12.534 no semestre anterior. As maiores quedas ocorreram entre enfermeiras de países que historicamente sustentam o NHS: Índia (-58%), Filipinas (-68%), Nigéria (-28%) e Gana (-9%). No mesmo período, também houve aumento de 6,6% no número de profissionais que deixaram o registro.

Embora o quadro geral da força de trabalho tenha crescido 0,8%, o avanço é muito inferior ao registrado em anos anteriores. Para Paul Rees, diretor executivo do NMC, a “era de alto crescimento no recrutamento internacional parece estar chegando ao fim”, enquanto o recrutamento nacional permanece estável. A consequência é a desaceleração do crescimento da força de trabalho em um NHS já pressionado por falta de pessoal, longas filas e sobrecarga assistencial.
A diversidade étnica do registro, entretanto, continua a aumentar. Hoje, 33,2% dos profissionais são negros, asiáticos ou pertencem a outras minorias étnicas, mais de 286 mil pessoas. Mas, segundo o NMC, esses trabalhadores relatam experiências de racismo, xenofobia e discriminação institucional, que muitos consideram mais graves do que em qualquer momento dos últimos 30 anos.
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Especialistas afirmam que a combinação de barreiras migratórias, racismo no ambiente de trabalho e oportunidades mais atraentes em países como Austrália, Nova Zelândia e EUA tem levado muitos profissionais qualificados a optarem por outros destinos. Líderes sindicais alertam que, sem imigração, o sistema de saúde britânico, altamente dependente de profissionais estrangeiros, corre risco de colapso.
Suzie Bailey, do The King’s Fund, reforça que o governo precisa de um “debate honesto” sobre o papel da imigração para a sustentabilidade do NHS. “Políticas restritivas alimentam o racismo e fragilizam serviços essenciais”, afirmou.
Enquanto o Reino Unido discute seu plano de força de trabalho para a próxima década, trabalhadores migrantes, muitos deles negros, seguem enfrentando os maiores impactos das decisões políticas.









