Lula aproveitou a passagem por Moçambique para defender a reativação do crédito do BNDES voltado a obras de empresas brasileiras no continente africano e para afirmar que o Brasil precisa reconstruir laços históricos com a região. O presidente cumpriu agenda em Maputo desde domingo e participou de reuniões com o presidente Daniel Chapo, além da assinatura de acordos de cooperação entre os dois países.
Ao longo de 2025, o governo brasileiro já havia sinalizado uma estratégia mais ampla de retomada da presença econômica no continente africano. Em maio, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio anunciou uma parceria voltada a ampliar as garantias de crédito para exportações destinadas a países africanos, medida apresentada como forma de destravar financiamentos e facilitar a atuação de empresas brasileiras na região. Pouco depois, a ApexBrasil reforçou esse movimento ao promover ações comerciais em Angola e apoiar a participação de empresas nacionais em feiras e iniciativas que buscavam reabrir mercados e estimular novos contratos.
A ofensiva diplomática e econômica ganhou outro passo quando a agência informou a criação de um “desk” permanente na Nigéria, voltado a aproximar empresários e ampliar a prospecção de negócios no continente. O conjunto desses anúncios já indicava que o governo pretendia reativar instrumentos de financiamento e estreitar laços comerciais com países africanos. A fala de Lula em Moçambique, defendendo a recuperação da capacidade de crédito do BNDES para apoiar a internacionalização de empresas brasileiras, se soma a esse contexto e reforça a intenção do Brasil de reposicionar sua presença econômica na África.

O encontro ocorreu poucos dias após Brasil e Moçambique completarem cinquenta anos de relações diplomáticas. Lula afirmou que o objetivo da viagem é reafirmar a presença do governo brasileiro em países em desenvolvimento e reconstruir políticas que, segundo ele, foram abandonadas em anos recentes. O presidente declarou que, enquanto enfrentava desafios internos, o país acabou se afastando de suas referências africanas. “Imersos em desafios próprios, passamos da irmandade à indiferença. O Brasil se perdeu por caminhos sombrios e, nesse processo, se esqueceu dos laços com a África. Mas é hora de recobrar a consciência”, disse Lula.
Ao tratar da necessidade de ampliar a cooperação econômica, ele voltou a mencionar o papel do BNDES. Lula afirmou que Moçambique ainda enfrenta “lacunas” de infraestrutura e destacou que a expansão econômica depende da construção de portos, estradas, usinas e linhas de transmissão. “O Brasil tem empresas dinâmicas com condições de contribuir. Para isso ser possível, precisa desatar uma amarra determinante. Nenhum grande país consegue exportar serviços sem oferecer apoio de crédito. Estamos trabalhando para o BNDES recuperar a capacidade de financiar a internacionalização das empresas brasileiras”, afirmou.
Lula também destacou que espera retomar a produção de fármacos brasileiros em território moçambicano e ofereceu cooperação no combate ao crime organizado. “A Polícia Federal brasileira é reconhecida internacionalmente por sua capacidade de rastrear ativos ilícitos e combater a lavagem de dinheiro. Ela está à disposição para compartilhar sua experiência e ampliar sua colaboração com Moçambique”, declarou.
Daniel Chapo agradeceu a visita e disse considerar Lula um “irmão mais velho”, pedindo apoio em áreas sensíveis como segurança alimentar. “Muito obrigado senhor presidente por esta visita”, afirmou o moçambicano.
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