Oito em cada dez entrevistados acreditam que existe diferença entre pessoas brancas e negras no acesso, no tratamento e no atendimento de diversos serviços. É o que revela a pesquisa Viver nas Cidades: Relações Raciais, realizada pelo Instituto Cidades Sustentáveis e a Ipsos-Ipec e lançada nesta quinta-feira (20). Os ambientes mais citados são os shoppings e estabelecimentos comerciais, seguidos pelo trabalho (processo de seleção, dia a dia, promoções) e ruas e espaços públicos de convivência (como parques e praças).
A comparação entre o perfil da amostra por raça/cor também evidencia a desigualdade estrutural presente na sociedade. Entre as pessoas brancas, 52% têm ensino superior, enquanto pretos e pardos se concentram no ensino médio (58%). Essa realidade se confirma na avaliação do perfil por renda familiar e classe socioeconômica, visto que os brancos estão mais presentes na Classe A/B (40%) e na faixa de renda mais alta, enquanto pretos e pardos são maioria na classe D/E (21%) e na faixa de renda de até 2 salários mínimos (52%).

O levantamento foi feito com 3.500 pessoas em dez capitais brasileiras, via painel online, com o objetivo de verificar a percepção dos respondentes sobre temas como discriminação racial em diferentes ambientes, as medidas que devem ser adotadas para combater o racismo e o preconceito, o papel das pessoas brancas para enfrentar o problema e a opinião dos entrevistados sobre racismo ambiental.
O trabalho contempla as seguintes cidades: Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. De modo geral, a pesquisa revela um cenário em que o racismo é reconhecido pelos respondentes, manifestando-se de forma mais acentuada nos espaços de consumo e trabalho.
A população branca também é mais envelhecida (20% com 60 anos ou mais), enquanto a preta e parda é um pouco mais jovem (26% de 25 a 34 anos). A tabela abaixo mostra os lugares onde o racismo é mais evidente para as pessoas, por capital. Os resultados mostram que não há diferenças significativas entre as cidades pesquisadas, porém Salvador e Belém registram o maior patamar de menções ao tratamento desigual em shoppings e comércios.
Os dados mostram ainda um consenso sobre a existência do racismo, mas a população negra, alvo certeiro da discriminação, demonstra uma visão mais crítica sobre as raízes estruturais do problema, defendendo com mais veemência as políticas afirmativas e o reconhecimento de privilégios como parte da solução. Punição e educação sobre o tema lideram como soluções que mais contribuiriam para combater o racismo nas cidades pesquisadas.
Entre brancos e pretos/pardos, há um consenso sobre a necessidade de punir atos de racismo e debater o tema nas escolas (tabela abaixo); porém, ainda que não seja estatisticamente significativa, a divergência aparece nas políticas afirmativas, especificamente sobre a eliminação de cotas nas universidades e a criação delas em cargos de decisão.
Veja outros destaques da pesquisa:
Percepção geral sobre o racismo
- 52% concordam totalmente que “a maior presença de pessoas negras e indígenas nas universidades é positiva para toda a sociedade”; 15% discordam totalmente ou em parte desta afirmação.
- 48% concordam totalmente que “a violência policial afeta principalmente as pessoas negras”; 18% discordam totalmente ou em parte desta afirmação.
- 44% concordam totalmente que “o racismo é um problema central da cidade e deve ser enfrentado com políticas públicas específicas”; 18% discordam totalmente ou em parte desta afirmação.
- 41% concordam totalmente que “aumentar a representatividade das pessoas negras na política e nos cargos de poder contribui para diminuir as desigualdades estruturais”; 20% discordam totalmente ou em parte desta afirmação.
Racismo ambiental
Quase metade dos internautas das cidades pesquisadas declara que a população negra é mais impactada do que outros segmentos da sociedade, sobretudo, pela falta de saneamento e de acesso à água potável e pelos deslizamentos e alagamentos.
- 50% dizem que a população negra tem “mais dificuldade de acesso à água potável, coleta e tratamento de esgoto.
- 48% dizem que a população negra é mais afetada pelo “deslizamento de encostas e desabamento de casas”.
- 48% dizem que a população negra é mais afetada por “inundações e alagamentos”
Papel dos brancos
- 49% dizem que o papel das pessoas brancas é se informar mais e se educar sobre o assunto.
- 32% respondem que é importante “se reconhecer como parte do problema, identificando ações racistas nas pequenas atitudes, como gírias e piadas”
SOBRE A PESQUISA
A Pesquisa Viver nas Cidades: Relações Raciais é uma realização do Instituto Cidades Sustentáveis, em parceria com a Ipsos-Ipec, elaborada com o objetivo de verificar a percepção dos internautas residentes em dez capitais brasileiras sobre temas relevantes relacionados ao assunto na cidade em que vivem.
O universo considera internautas de 16 anos ou mais, das classes ABCDE, que moram nas capitais de interesse há pelo menos 2 anos. O trabalho de campo foi realizado entre os dias 1 e 20 de julho de 2025.
Foram realizadas 3.500 entrevistas de forma online, distribuídas entre as cidades de Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Goiânia, com controle de cotas pelas variáveis sexo, idade, classe social e ocupação.
O nível de confiança dos estudos é de 95% e a margem de erro para o total da amostra é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Para os resultados desagregados por capital, a margem de erro pode variar de 4 a 6 pontos percentuais, de acordo com a amostra da cidade.
Realizada no âmbito do Programa Cidades Sustentáveis, a pesquisa conta com o cofinanciamento da União Europeia, como parte do “Programa de fortalecimento da sociedade civil e dos governos locais para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. O projeto tem como parceiros institucionais a Frente Nacional dos Prefeitos e Prefeitas (FNP) e a Estratégia ODS.









