Ícaro Silva participa do Especial que será exibido no dia 20 de novembro traz em repertório bem humorado o protagonismo negro
Contar a “história que a história não conta”, essa é a proposta do especial ‘Falas Negras’, exibido no dia 20 de novembro em comemoração ao Dia da Consciência Negra. No elenco, o ator Ícaro Silva interpreta um dos maiores nomes da literatura brasileira, Machado de Assis, trazendo à tona o processo de embranquecimento que marcou a representação do escritor ao longo do tempo.
Em entrevista ao Notícia Preta, Ícaro falou sobre a responsabilidade de dar vida ao autor e ajudar recontar histórias que foram apagadas ou modificadas ao longo dos anos no Brasil:
“Iluminar essas histórias é parte do processo de descolonizar o nosso pensamento. Quando questionamos o que aprendemos na escola e passamos a olhar para o que sempre esteve ao nosso redor, percebemos que as histórias de pessoas pretas e indígenas nunca deixaram de existir, elas foram silenciadas. A resistência delas é poderosa, e é ela que permite que um jornal como o NP exista e que eu faça o meu trabalho. A alegria agora é poder olhar para essas narrativas com a importância que merecem, por outras perspectivas, e recontá-las de forma verdadeira”, afirma o ator.

O ator também reforçou a importância de interpretar o escritor e destacou como enxerga Machado para além da ficção: “Interpretar Machado de Assis é um orgulho e uma honra, acho ele um grande documentarista. Por mais que escrevesse ficção, ele tinha uma visão interessente do Brasil. Ele fala de um tempo, de pessoas e de um comportamento de um Brasil que hoje é um grande documentário para nós ”
A relação de Ícaro com o escritor começou antes mesmo do especial. “Há um tempo, eu gravei um audiolivro de O Alienista, e foi quando comecei a pesquisar o Machado para além do que aprendemos na escola. Fui atrás do Brasil dele, de quando o Rio de Janeiro era a capital, e descobri um olhar muito debochado sobre o tempo em que vivia.”
Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa, nascido no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, vindo de uma família pobre, Machado construiu uma trajetória que rompeu barreiras sociais e raciais em pleno Brasil do século XIX. Autodidata, tipógrafo, jornalista, dramaturgo e cronista, tornou-se fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Suas obras revelam um olhar agudo, crítico e irônico sobre a sociedade brasileira, suas elites, suas contradições e seus silêncios. Para Ícaro, ter Machado de Assis em um especial que tem como marca o humor para tratar assuntos densos, é a junção perfeita.
“Fazer o Falas Negras em tom de comédia e ter o Machado encaixa muito bem. Acredito que o humor e a crítica social caminham juntos e acho que Machado já tinha entendido isso lá atrás”, comemora.
Um Brasil com sede de mudança
Em um momento em que o Brasil revisita suas narrativas e tenta entender para onde quer ir, Ícaro acredita que a construção de um futuro mais justo passa necessariamente pela escuta e pela troca. Para ele, compreender o país também exige reconhecer suas contradições e o desejo coletivo de mudança.
“Esse país ainda é jovem para todos nós e, de certa forma, uma incógnita também. Acho que todo brasileiro deseja construir um Brasil mais interessante. Por mais que o Brasil tenha infinitas questões, a gente tem sede de mudança aqui, o que eu acho que nós coloca um passo a frente. E, nesse sentido, o diálogo é muito poderoso na nossa nação. Somos, mais do que uma sociedade do conflito, uma sociedade do diálogo. E uma das formas mais potentes de conversar com as pessoas é pelo humor. A piada amacia o coração e abre espaço para falar de temas mais densos”, analisa Ícaro Silva.
O poder da continuidade
Ao refletir sobre memória e permanência, o ator destaca que, apesar dos silenciamentos e das distorções ao longo dos séculos, a resistência das populações negras sempre encontrou caminhos para existir. Para ele, não se trata apenas de resgatar histórias, mas de reconhecer tudo aquilo que sobreviveu apesar das tentativas de apagamento.
“Houve tantas tentativas de apagamento da nossa história, mas a gente continua com a nossa história no peito. Claro que muita coisa se perdeu, muita coisa foi distorcida, mas a gente continua cultivando nossos orixás, continua com as nossas palavras, continua entendendo o poder da nossa continuidade.”
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Posicionamento e vida pessoal de Ícaro Silva
O ator também refletiu sobre seu trabalho e sobre a pressão por posicionamentos nas redes sociais. Ícaro acredita que consegue levantar debates importantes por meio da própria arte, sem precisar expor sua vida pessoal e que seu desejo é refletir juntamente com o público.
“Fico feliz que, através do meu trabalho, consiga conversar com as pessoas sobre temas sensíveis. Não tenho a pretensão de ser um ativista ou um artista que se posiciona o tempo todo. Todas as vezes em que me posicionei foi porque achei necessário. Acho que esse também é o papel do artista: refletir seu tempo, trazer as questões que atravessam a sociedade. Às vezes, precisamos falar. Mas, no geral, meu desejo é me posicionar por meio da minha arte. Não tenho interesse em compartilhar visões íntimas ou detalhes da minha vida; isso não me move. O que eu quero é refletir, junto com o público e com a sociedade, quais são as nossas questões e fazer isso através do meu trabalho”, pontua.
Sobre o programa
Exibido no no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, O programa uni humor, ironia e crítica social, trazendo a importância da temática racial no mês da Consciência Negra e jogando luz em pautas importantes sob a perspectiva do humor, utilizando o riso como ferramenta de resistência. O ator acredita que tudo é possível de ser dito desde que se saiba como dizer e espera que o programa faça as pessoas refletirem:
“O especial foi feito com muito carinho e com pessoas muito talentosas e dedicadas ao seu óficio, e espero que isso transborde na tela e que as pessoas se abram para a reflexão que esse especial pode causar, temos muito o que refletir sobre racialidade no Brasil e sobre nossa história.”

Com apresentação de Luis Miranda e Luellem de Castro, o programa também tem nomes como Haonê Thinar, Pedro Ottoni, Luisa Perisse, Digão Ribeiro,Magda Gomes, Thamirys Borsan e Fernando Caruso.
Fazem parte do roteiro esquetes, referências musicais, stand up comedy e humoristas conhecidos, como Thiago Carmona e Bruna Braga. A humorista Tatá Mendonça que apresentou ‘Falas de Acesso’ também estará em ‘Falas Negras’.
‘Falas Negras’ tem roteiro final de Veronica Debom, direção de Naína de Paula e direção artística de Matheus Malafaia. O especial é escrito por Clara Anastácia, Flávia Boggio e Veronica Debom, com colaboração de Bruna Braga. A produção executiva é de Claudio Dager, produção de Silvana Feu e direção de gênero de Patricia Pedrosa.









