Um relatório da Oxfam divulgado na última quarta-feira (24) alerta que, embora 70% do potencial solar e eólico do mundo esteja concentrado no Sul Global, os principais lucros e investimentos na transição energética permanecem com países ricos e elites econômicas.
O estudo, intitulado “Transição Injusta: Resgatando o Futuro Energético do Colonialismo Climático”, mostra que em 2024 a América Latina recebeu apenas 3% dos investimentos globais em energia limpa, enquanto o Sudeste Asiático, Oriente Médio e África ficaram com 2% cada. No mesmo período, o Norte Global concentrou 46% dos aportes e a China, 29%.

Apesar de reunir quase metade das reservas mundiais de lítio, a América Latina retém apenas 10% do valor gerado por esse mercado. Na África Subsaariana, onde está 85% da população mundial sem acesso à eletricidade, a desigualdade é ainda mais evidente: os custos de fornecer energia limpa são quase o dobro dos registrados em países desenvolvidos.
A Oxfam destaca que a concentração de lucros perpetua padrões coloniais. Empresas globais extraem minerais como lítio, cobalto e níquel, mas deixam às comunidades locais os impactos sociais e ambientais. O relatório cita o exemplo da Tesla, que em 2024 lucrou US$ 3.145 por veículo elétrico vendido, enquanto a República Democrática do Congo recebeu apenas uma fração pelo fornecimento dos 3 kg de cobalto necessários em cada carro.
Além da exploração mineral, a organização alerta para grilagem de terras para bioenergia, apropriação de recursos hídricos e projetos de energia renovável que avançam sobre territórios indígenas. Segundo o levantamento, 60% das terras oficialmente reconhecidas como indígenas estão sob ameaça por projetos ligados à transição energética, o equivalente a uma área somada do Brasil, EUA e Índia.
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O diretor-executivo da Oxfam, Amitabh Behar, afirmou que “os países mais ricos estão levando a crise climática ao ponto de ruptura e agora tentam capturar e controlar a transição energética às custas dos mais pobres”. Para ele, uma transição justa exige enfrentar a má governança, os abusos de poder e os padrões de desigualdade que estruturam o setor.
No Brasil, a diretora-executiva da Oxfam, Viviana Santiago, destacou que o país repete um modelo extrativista. “Temos enorme potencial em energia solar, eólica e de biocombustíveis, mas seguimos em uma lógica que concentra renda, explora territórios tradicionais e deixa comunidades locais com os custos ambientais e sociais”, afirmou.
A Oxfam defende que a transição energética só será justa com financiamento público prioritário, transferência de tecnologia, respeito aos direitos indígenas e trabalhistas e soberania energética dos países do Sul Global.