O Censo da Educação Superior 2024, divulgado pelo Inep nesta segunda-feira (22), mostra que a universidade brasileira viveu uma reviravolta em dez anos. O ensino a distância (EAD) deixou de ser exceção e passou a ser a regra.
Em 2014, apenas uma pequena parcela dos universitários estudava de forma remota: dois em cada dez. Hoje, quase sete em cada dez estão nessa modalidade. A virada representa um salto de 286,7% nas matrículas em cursos virtuais em apenas uma década. Já os cursos presenciais perderam espaço, registrando queda de 22,3% no mesmo período.
A mudança provocou reação do Ministério da Educação. Para tentar frear distorções e manter a qualidade das graduações, a pasta lançou em maio uma nova política para o setor. Pelo regulamento, áreas como Medicina, Direito, Odontologia, Psicologia e Enfermagem só poderão ser oferecidas presencialmente. Além disso, nenhuma graduação poderá ocorrer de forma totalmente online: ao menos 20% da carga horária terá de ser cumprida em atividades presenciais ou em aulas síncronas ao vivo.

O levantamento também evidencia a dimensão do mercado. Foram oferecidas em 2024 mais de 23,6 milhões de vagas no ensino superior. Apenas 5 milhões eram presenciais; mais de 18,5 milhões, a distância. Mesmo com esse volume, só pouco mais de 5 milhões de estudantes efetivaram matrícula, o que corresponde a 21,1% do total. Ou seja, 3 de cada 4 vagas abertas no ano não foram preenchidas. A rede privada segue como protagonista: 95,8% das ofertas vieram de instituições particulares.
As licenciaturas, que formam professores, acompanham essa guinada. O Censo mostra que 69% das matrículas nesse tipo de curso já são remotas, dois pontos a mais do que em 2023. O dado é ainda mais expressivo entre os calouros: oito em cada dez ingressaram pelo EAD. Nas universidades privadas, a adesão é quase total, 93,8% dos novos estudantes escolheram estudar a distância.
O cenário indica que o ensino superior brasileiro vive um momento de inflexão histórica. O avanço do EAD consolidou um novo padrão de acesso, mas, ao mesmo tempo, trouxe o desafio de garantir qualidade em um sistema cada vez mais concentrado em instituições privadas e marcado por uma baixa taxa de ocupação das vagas oferecidas.
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