O trapper Oruam, preso desde 24 de julho, divulgou uma carta escrita dentro do presídio Bangu 3, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde cumpre prisão preventiva. No texto, o artista reconhece seus erros, pede perdão à família e aos fãs e afirma estar sendo alvo de uma perseguição que tenta “manchar sua história e sua arte”.
“Um leão ferido ainda é um leão. Ninguém prende quem tem a mente livre“, inicia o desabafo, publicado nas redes sociais do artista. Oruam relembra as visitas que fazia ao pai no sistema prisional e revela o choque de agora ser ele quem está atrás das grades. “Hoje, quando minha família vem me ver, o que mais quero é ir embora junto com eles”, escreve.

Entre os trechos mais marcantes, o rapper diz ter se afastado da fé com a fama e afirma que a prisão o reconectou com Deus. Ele cita versículos bíblicos para refletir sobre sua experiência:
“Fiquei famoso, ganhei o mundo e me esqueci de Deus. Tive que ser preso pra voltar a falar com Ele, aceito meu castigo.”
Apesar do reconhecimento dos erros, Oruam afirma que sua prisão extrapola os limites da justiça comum. “Estou sendo julgado de forma desigual, carregando acusações que não correspondem à minha verdade”, denuncia. “Mais do que uma pena, sinto o peso de uma perseguição que tenta manchar minha história e minha arte.”
Na carta, o cantor também lamenta falsos amigos e agradece quem o apoiou. “Hoje sei quem são meus amigos de verdade. Nunca vou esquecer de quem estendeu a mão no momento em que eu mais precisei.”
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Entenda o caso
A prisão do rapper ocorreu após uma ação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), no dia 21 de julho, que tinha como objetivo cumprir um mandado de busca contra um adolescente infrator ligado à facção Comando Vermelho. Durante a operação, o jovem fugiu depois de uma confusão envolvendo Oruam e outras pessoas que estavam no local, na residência do artista no bairro do Joá.
Segundo a polícia, o adolescente teria escapado após o carro da DRE ser apedrejado. Câmeras de segurança e vídeos gravados por testemunhas embasaram o inquérito que resultou na prisão do rapper.
Oruam responde pelos crimes de ameaça, dano ao patrimônio público, desacato, resistência à prisão e associação ao tráfico, e pode ser condenado a até 18 anos de prisão, caso seja considerado culpado em todos os crimes.
Em sua carta, o artista nega envolvimento com o tráfico de drogas:
“Quero que entendam: eu sou um trapper, não um traficante. Esse é o meu momento de rever meus erros, de refletir e de me levantar mais forte.”
Repercussão e mobilização
A prisão de Oruam gerou grande comoção nas redes sociais, especialmente entre fãs jovens das periferias e comunidades, onde o trap tem forte penetração cultural. Organizações e coletivos que atuam com cultura urbana e direitos humanos questionam o rigor das acusações e o tratamento dado ao artista em comparação com figuras públicas brancas envolvidas em episódios de maior gravidade.
A defesa do rapper ainda não se pronunciou oficialmente sobre os próximos passos do processo, mas, segundo fontes próximas à família, há intenção de recorrer judicialmente da prisão preventiva e buscar medidas que respeitem o devido processo legal.