Exploração de vítimas de tráfico humano para fraudes cibernéticas se tornam globais. Criminosos usam cada vez mais ferramentas de IA para aplicar golpes.
Segundo relatório divulgado esta semana pela Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, fábricas de golpes cibernéticos que exploram vítimas de tráfico humano expandiram em todo o mundo.
Segundo a pesquisa sobre tendências criminais, a exploração de pessoas para esses crimes trata-se de uma “crise global”. As vítimas forçadas a participar de fraudes on-line, surgiram inicialmente em alguns países do Sudeste Asiático, atualmente a origem dessas pessoas traficadas é de pelo menos 66 países de todos os continentes e de regiões como América do Sul, África Oriental e Europa Ocidental.
Atraídas por ofertas falsas de emprego, as vítimas são obrigadas a executar golpes on-line, principalmente tentando roubar dinheiro de pessoas do exterior. As pessoas traficadas são mantidas em cativeiro nos complexos de golpes, sendo chantageadas por dívidas, espancadas, exploradas sexualmente e torturadas, em alguns casos.
A Interpol também afirma que o uso da inteligência artificial tem impulsionado ainda mais essas fábricas. Os criminosos geram através da IA anúncios falsos de emprego, ou perfis deepfake para aplicar golpes como o da “sextorsão“. Neste tipo de crime, criminosos usam imagens falsas para simular pessoas reais e chantagear as vítimas com imagens íntimas.

LEIA TAMBÉM: Banco Central divulga alterações no regulamento do pix com o objetivo de diminuir golpes
Casos de fábricas de golpes digitais
Em fevereiro deste ano, dois brasileiros conseguiram escapar de uma fábrica de golpe digital em Mianmar, o KK Park. Após repercussão do caso, cerca de 7 mil pessoas foram resgatadas.
Em 2024, a Interpol também realizou operações que revelavam dezenas de fábricas. Também em 2024, a polícia acabou com um centro de golpes em escala industrial nas Filipinas e outro na Namíbia, 88 jovens foram encontrados sendo forçados a aplicar golpes.
Países como Camboja e Laos também lidam há anos com quadrilhas especializadas em golpes digitais.
O chefe interino dos serviços policiais da Interpol, Cyril Gout, alerta para a necessidade de uma resposta internacional coordenada: “Enfrentar essa ameaça que se globaliza rapidamente requer uma resposta internacional coordenada”.
Rotas para o tráfico
A Interpol também alertou para as rotas usadas para tráfico dos centros de golpes também sendo exploradas para o contrabando de drogas, armas de fogo e tráfico de espécies ameaçadas de extinção.
O relatório destaca que o tráfico de golpes digitais está cada vez mais entrelaçados com outros grandes crimes transnacionais, e que precisam de uma resposta global coordenada para acabar.
Leia também: Brasil registra quase 4.700 tentativas de fraude ‘golpe do 0800’ por hora, revela pesquisa