Fortuna do 1% mais rico poderia acabar com a pobreza 22 vezes

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Elite global concentrou US$ 33,9 trilhões (cerca de R$ 185 trilhões) em uma década, enquanto 3,7 bilhões de permanecem na pobreza dez anos após a aprovação da ODS

Imagine um mundo onde a pobreza não exista. Isso seria possível globalmente 22 vezes se considerarmos a fortuna do 1% mais rico do planeta. Segundo o o relatório  “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia”, a riqueza desse seleto grupo aumentou mais de US$ 33,9 trilhões (em termos reais) desde 2015 e com esse valor seria possível acabar de vez com a pobreza do planeta.

Essa conta foi feita baseada no custo anual para erradicar a pobreza em 2024 por um ano. Segundo a pesquisa mais de 3,7 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza atualmente mesmo após a aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Essas pessoas vivem com o valor de US$ 8,30 por dia, equivalente a R$ 45 reais, de acordo com os dados do Banco Mundial. O aumento de 1% da riqueza dos mais ricos seria mais do que suficiente para cobrir o custo 22 vezes.

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Na nova análise feita pela Oxford Committee for Famine Reliefe (Oxfam- Comitê de Oxford para o Alívio da Fome), entre 1995 e 2023 a riqueza privada global cresceu US$ 342 trilhões, o que significa 8 vezes mais que a riqueza pública, que teve um aumento de apenas US$ 44 trilhões. A fortuna de apenas 3.000 bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões no mesmo período e agora equivale a 14,6% do PIB global.

Segundo Viviana Santiago, Diretora da Oxfam Brasil, o país é um retrato do fracasso do atual modelo de desenvolvimento global e que esse sistema aprofunda desigualdades históricas de raça e gênero: “O Brasil é um retrato escancarado do fracasso do atual modelo de desenvolvimento global, que prioriza lucros privados em vez do bem-estar coletivo. A extrema concentração de riqueza no topo, alimentada por um sistema tributário injusto e regressivo, aprofunda desigualdades históricas de raça e gênero. São as mulheres negras, indígenas e periféricas que pagam o preço mais alto da crise climática, da fome e do desmonte dos serviços públicos”.

Fortuna de 1% mais rico poderia acabar com a pobreza 22 vezes
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Cortes na ajuda humanitária e ODS

A pesquisa também aponta o grande corte que países ricos estão realizando em relação a ajuda humanitária desde 1960. Segundo dados, os países do G7, grupo formado por: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos responsáveis por 75% da ajuda oficial, reduzirão seus repasses em 28% até 2026.

Outro dado importante revelado na pesquisa é que 60% países de baixa renda estão entrando em colapso, pois gastam mais com credores do que com saúde e educação para a população.

Além disso, apenas 16% das metas dos ODS estão no rumo certo para 2030.

Combate a desigualdade extrema

No relatório a Oxfam cita políticas públicas que deveriam ser criadas e desenvolvidas pelos governos de todo o mundo para o combate a desigualdade extrema e transformação do sistema de financiamento do desenvolvimento:

  • Novas alianças estratégicas contra a desigualdade: Os governos devem se unir em novas coalizões para se opor à desigualdade extrema. Países como Brasil, África do Sul e Espanha estão oferecendo liderança para isso internacionalmente. Uma nova “Aliança Global Contra a Desigualdade”, apoiada por Alemanha, Noruega, Serra Leoa e outros, serve de exemplo para que outras nações apoiem.
  • Abordagem “público primeiro” – rejeitar o Consenso de Wall Street: Os governos devem rejeitar o financiamento privado como a solução mágica para o desenvolvimento. Em vez disso, devem investir em desenvolvimento liderado pelo Estado – para garantir serviços universais de saúde, educação e assistência de alta qualidade – e explorar bens públicos em setores como energia e transporte.
  • Repensar totalmente o financiamento do desenvolvimento: taxar os super-ricos, revitalizar a ajuda humanitária, reformar a arquitetura da dívida e ir além dos indicadores de PIB. Os doadores do Norte Global devem reverter urgentemente os cortes catastróficos à ajuda vital e cumprir a meta de 0,7% de AOD (Ajuda Oficial ao Desenvolvimento) como mínimo. Os governos devem apoiar uma nova convenção da ONU sobre dívida e a convenção tributária da ONU, aproveitando o esforço do G20 liderado pelo Brasil para tributar indivíduos com alto patrimônio.

Leia também: O comer precisa ser um ato antirracista: fome atinge mais as famílias de mulheres negras

Layla Silva

Layla Silva

Layla Silva é jornalista e mineira que vive no Rio de Janeiro. Experiência como podcaster, produtora de conteúdo e redação. Acredita no papel fundamental da mídia na desconstrução de estereótipos estruturais.

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