Com direção de Rodrigo França e Tainara Cerqueira, espetáculo OZ enaltece as múltiplas formas de amor

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Buscando novas maneiras de representar a negritude, que não passam pela violência e o sofrimento, a companhia Aquilombamento Ficha Preta estreia seu novo trabalho. “OZ”, com direção de Rodrigo França e Tainara Cerqueira, faz sua temporada até 26 de junho, às quartas e quintas, às 21h, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. No dia 19 de junho, feriado de Corpus Christi, a sessão acontece às 18h. 

Idealizada e escrita por Aline Mohamad, a peça é sobre um casal que decide não se curvar às regras de um amor socialmente instituído. Eles passam a questionar os limites impostos aos seus corpos e aprendem a construir uma família a partir das suas próprias crenças.

Cena do espetáculo OZ /Foto: Tiago Silva

“Quando iniciamos as pesquisas para o ‘OZ’, eu tinha acabado de perder uma tia muito querida chamada Zeneb. Ela era surda e percebi que minha família sempre a colocou em uma redoma. Por isso, ela nunca pôde vivenciar sua sexualidade plenamente”, conta Aline. 

Essa história foi o grande disparador dramatúrgico do espetáculo. “Embora não seja uma narrativa biográfica, muitas das experiências de Zeneb conduzem a obra. Ela nunca teve um amor romântico, mas dava alguns selinhos em amigos e gostava de assistir a filmes pornôs, por exemplo. E, como existem outros amores possíveis, quisemos falar sobre isso”, completa.

Sobre a encenação

Para o grupo, era importante desmistificar a ideia de que apenas certos corpos estão predestinados ao amor. Dessa forma, o casal do espetáculo é formado pelo ator, poeta e slamer surdo Edinho Santos e a atriz Letícia Calvosa. E a encenação é bilíngue, em português e Libras. 

Os dois partilham seus afetos principalmente na cozinha, o coração da casa.  É lá onde o aroma do café passado no pano se mistura com o calor do forno, onde cada panela guarda um segredo e cada tempero carrega a marca de quem cuida e acolhe. 

“Para o povo preto, a cozinha não está atrelada apenas a um lugar de serviço, mas de confraternização e afeto. Por isso, valorizamos uma mesa farta, cheia de delícias para compartilhar”, comenta Tainara Cerqueira, que assina a direção ao lado de Rodrigo França

E o cenário e o figurino evocam esse ambiente carinhoso, mas de maneira lúdica, com muita cor. “Queremos que esses elementos façam a plateia perceber um novo mundo de possibilidades de doçura dentro de casa. O trabalho é uma oportunidade de apresentar outros tipos de relações, que fogem à lógica patriarcal e se alinham mais a uma perspectiva decolonial. Eu venho de um lar em que as mulheres eram centrais, mesmo com um pai carinhoso e financeiramente presente ”, defende França.   

O público até vai poder desfrutar de um café com bolo de cenoura durante as apresentações. Isso porque os alimentos são capazes de evocar memórias afetivas e ancestrais. 

“OZ” configura-se como um ritual de amor que transcende o tempo. Os espectadores acompanham a construção de cumplicidade entre um casal, a cada gesto cotidiano. A peça mostra como o lar pode ser um espaço de resistência, cuidado e beleza, mesmo com uma sociedade julgadora.

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