Uma das maiores favelas do país, Paraisópolis teve um aumento na taxa de mortalidade nos últimos três meses, chegando a 240%, de acordo com dados do Instituto Polis e do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade) da Universidade de São Paulo (USP), com base em dados da Secretaria Municipal de Saúde, fornecidos por meio da Lei de Acesso à Informação.
No início da pandemia, os números eram relativamente bons para a densidade demográfica do local, sendo a taxa de mortalidade de 16 óbitos para cada 100 mil, no mês de maio. Já em agosto, os números subiram para 54 mortes para cada 100 mil habitantes, revelando um aumento de 237,5% nos óbitos por Covid-19.
Em nota, a Secretaria de Saúde de São Paulo informou que o número de óbitos “vem apresentando queda nos últimos meses” e, segundo ela, foram registradas 123 mortes até agosto, sendo que 39 morreram em maio e, em agosto, foram oito óbitos.
Nós por nós
A comunidade onde Paraisópolis está localizada tem cerca de 100 mil habitantes e a população criou um sistema chamado “presidentes de rua”. Nele, agentes voluntários são responsáveis por cuidar de 50 casas, cada um. O trabalho consiste em conscientizar e reforçar as instruções e regras de isolamento social, além de dar apoio às entregas de mantimentos e doações em geral. “Houve um esgotamento das ações comunitárias com o passar dos meses. Todas as medidas que foram adotadas acabam se esgotando ao longo do tempo por não conseguirem conter mais a população dentro das suas casas esperando acabar a pandemia”, apontou o médico sanitarista e pesquisador do Instituto Polis, Jorge Kayano.
Ainda segundo Kayano, o fluxo de doações diminuiu com o passar dos tempos, minimizando os atendimentos às comunidades. “Não há filantropia ou poder de contribuição que permaneça indefinidamente. Precisam de ação complementar do setor público”, afirmou.
Omissão pública
Ainda de acordo com o médico, o número de mortes por Covid-19 aumentou na comunidade devido a falta de apoio do poder público. “A ação pública poderia ao menos fazer uma contribuição efetiva para que as iniciativas feitas pela própria comunidade tivessem mais alcance e poder de fogo”, enfatizou e completou. “Agora está claro que não foi suficiente para manter essa situação de baixa taxa de mortalidade. Isso não pode ser cobrado dos moradores de Paraisópolis”.