Livro sobre Dona Ivone Lara será apresentado em evento de literatura em Belo Horizonte (MG)

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O projeto Literatura no Palladium, que acontece no Grande Teatro do Sesc Palladium em Belo Horizonte (MG), apresenta nesta quarta-feira (13), às 19h, a leitura e análise do livro infantojuvenil “Dona Ivone Lara e o Sonho de Sambar e Encantar”, obra de Jacques Fux que conta a história de uma das personalidades mais importantes do país.

No evento o autor da obra e a cantora, compositora, sambista e médica do SUS Júlia Rocha, terão uma conversa musical, mediada pela jornalista especialista em cultura, arte e música brasileira Camila de Ávila, sobre a obra de Dona Ivone e seu legado para o cenário cultural do país no que tange o samba e a ciência. A classificação é 10 anos.

O livro infantojuvenil “Dona Ivone Lara e o Sonho de Sambar e Encantar” será analisado no evento /Foto: Acervo Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara é a primeira e única, com a magia de sua personalidade de orgulhosa simplicidade, no tecido das contradições dos que rompem a mediania para a afirmação de inimitável na sua arte eterna”, escreveu o jornalista Villas-Bôas Corrêa (1923-2016) no encarte do CD em que a música da artista é apresentada no formato instrumental pelo pianista Leandro Braga. Todos os biógrafos e pesquisadores atestam que Yvonne Lara da Costa, seu nome de batismo, é uma exímia musicista, que compreende a música de maneira ímpar e intuitiva, como se a canção fosse o som de sua alma.

É importante ressaltar que Dona Ivone é uma das provas de que a arte escolhe onde quer residir. Essa artista, definitivamente, é uma casa plena da música brasileira em sua versão mais genuína, o samba”, observa Jacques Fux.

Para além do samba, é importante falar sobre a contribuição de Dona Ivone Lara para a saúde mental. Enfermeira e assistente social, a sambista trabalhou com Nise da Silveira (1905 – 1999), importante nome da medicina no Brasil que se dedicou a cuidar da saúde mental, trazendo um tratamento inovador na época, que não utilizava os eletrochoques, a insulinoterapia e a lobotomia. Nise levava para os portadores de sofrimento mental materiais de produção artísticas como tintas, pinceis, telas e, a pedido de dona Ivone, criou uma sala no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II com instrumentos musicais.

A sensibilidade de Dona Ivone se aliou ao olhar atento e revolucionário de Nise da Silveira no tratamento desses pacientes. Pode-se dizer que essa união, de duas mulheres inteligentes, fortes, revolucionárias e corajosas trouxe benefícios inimagináveis e até hoje utilizados como referência no tratamento de patologias da mente”, atesta Julia Rocha.

Mulher preta retinta, Ivone Lara ficou órfã ainda criança. A menina foi estudar no colégio municipal que funcionava em regime de internato, o Orsina da Fonseca, onde teve aulas de iniciação musical e canto. Foi aluna de Lucila Villa-Lobos, esposa de Heitor Villa-Lobos, e da soprano preta Zaíra de Oliveira, considerada uma das maiores cantoras do mundo por Pascoal Carlos Magno.

Compositora desde os 12 anos, Ivone fez duas faculdades e nunca deixou de participar do carnaval de forma ativa, inicialmente na Prazer da Serrinha e depois na Império Serrano, na Ala das Baianas. Como mulher não podia ser compositora ou sambista, suas canções eram assinadas por seu primo, o mestre Fuleiro. Porém, tudo mudou em 1964, quando ganha um concurso de samba-enredo com o clássico “Os cinco bailes da história do Rio”, que deu o vice-campeonato para a Império Serrano, em 1965.

Vítima não somente do machismo, algo que atinge todas a mulheres, Ivone é para nós, mulheres pretas, um exemplo de resistência e resiliência. Preta, pobre e favelada, Ivone é uma inspiração, uma força que se ergue para nós”, diz a jornalista Camila de Ávila.

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