Após a médica Lorena Pinheiro perder sua vaga no concurso da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Famed-Ufba) para atuar como professora adjunta, aprovada pela Lei de Cotas, professores negros da instituição lançaram um manifesto em apoio à médica. Apesar de segundo o edital, ser a indicada para a vaga, Lorena foi surpreendida com uma liminar da justiça que obrigava a Ufba a convocar a candidata aprovada em primeiro lugar na ampla concorrência.
“Expressamos grande preocupação em relação ao recente episódio envolvendo as políticas de ação afirmativa da nossa instituição e demandamos uma resposta firme e resolutiva por parte da administração universitária“, diz parte do manifesto assinado por 104 docentes negros e negras, dos 2.749 professores da instituição. Lorena contou publicamente sobre a situação em seu perfil nas redes sociais.
Além disso, o manifesto destaca que as políticas de cotas são o fruto “das batalhas históricas dos movimentos negros no Brasil” e que a liminar desrespeita o próprio edital que a disponibilizar apenas uma vaga para o cargo, que ela deva ser “preferencialmente ocupada por candidato autodeclarado negro”. A liminar foi pedida pela médica Carolina Cincurá, que ficou em primeiro lugar na ampla concorrência.
“Essa é uma perspectiva que distorce o real significado das políticas de ação afirmativa, que representam um compromisso institucional da Universidade com a inclusão de pessoas negras e a promoção da diversidade“, diz outra parte do manifesto.
Além dos professores, outras instituições também se manifestaram em apoio à Lorena. O Movimento Negro Unificado da Bahia (MNU), a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) e a Associação dos Professores Universitários da Bahia (Apub) publicaram nota de repúdio a liminar.
“Repudiamos veementemente a recente decisão judicial que, sem consultar a UFBA, determinou a nomeação de outra candidata, ignorando a importância da Lei de Cotas (Lei n. 12.990/2014) e o papel crucial das políticas de cotas na promoção da igualdade racial e reparação histórica“, diz a nota do MNU.
Em agradecimento pela mobilização, Lorena destacou que a luta não é apenas dela. “A publicação da Apub e de diversos outros movimentos e associações representativas fortalece a causa e, repito, isso não é só uma luta minha, mas também é uma luta coletiva de todo um povo que busca reparação social histórica“.
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