Prédio que ameaçava o terreiro mais antigo do Brasil em Salvador (BA) começa a ser demolido

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A construção que colocava em risco o Terreiro da Casa Branca, Ilé Àṣẹ Ìyá Nasò Ọka, templo candomblecista mais antigo do Brasil, situado em Salvador-BA, começou a ser destruída desde o início deste mês. O espaço fica no bairro Engenho Velho da Federação.

De acordo com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), a obra foi fiscalizada em agosto de 2021. No mesmo período, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), também fez vistorias técnicas no prédio e apontou que a construção tratava-se de uma infração administrativa, pois não tinha autorização prévia para ser realizada em áreas vizinhas a patrimônios tombados.

A demolição do prédio foi determinada pela Justiça em setembro do ano passado / Foto: Bruno Concha – Secom PMS

Nesse sentido, a destruição do edifício, que segundo o Ministério Público da Bahia pertence a um policial militar, será feita por etapas e de forma manual, para que não haja riscos de desmoronamentos. Enquanto isso, uma parte do terreiro foi interditada até que a obra seja concluída.

A previsão é que isso aconteça até outubro deste ano. Após a finalização, o local será revitalizado e receberá um memorial da Casa Branca que será implementado ao terreiro.

“Casa Branca sob grave ameaça”, disse o terreiro no Instagram

Em março do ano passado, através de seu perfil no Instagram, o Terreiro Casa Branca publicou um texto de denúncia que diz:

Um edifício está sendo construído na parte de cima do mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, sem qualquer licenciamento e sem embargo por parte da Prefeitura de Salvador. Já está com cinco andares, desafiando autoridades. Construção segue sem qualquer acompanhamento técnico, e isso só aumenta os riscos (…) A religião afrodescendente merece respeito, como todas. Ninguém tem o direito de afrontá-la“.

Prédio irregular foi erguido em cima da Casa de Omolu do terreiro, orixá da cura, local ameaçado pela construção / Foto: Reprodução/Instagram

Na postagem, diversas pessoas também demonstraram sua revolta pela situação. “Muito atrevimento (essa) construção, onde o sagrado se faz presente e é tombado pelo patrimônio histórico da Bahia e do Brasil. Impossível essa obra chegar onde está. Onde estão os órgãos públicos que não tomam uma posição justa?”, disse um internauta.

Perfil do terreiro recebeu inúmeros comentários de apoio após a denúncia /Foto: Reprodução/Instagram

Conheça a história do Terreiro da Casa Branca

De acordo com o Iphan, o Terreiro da Casa Branca foi fundado por três africanas da nação nagô, no século XIX, especificamente em 1830. Sua primeira sede foi nos fundos da Igreja da Barroquinha, no centro da cidade de Salvador; porém, por consequência das perseguições, a comunidade foi transferida para o Engenho Velho da Federação, local que ocupa até hoje.

Similarmente, em 1984, esse terreiro foi o primeiro centro religioso de matriz africana a ser reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro e inscrito nos livros do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Em junho, o terreiro comemorou 40 anos de seu tombamento histórico realizado pelo Iphan.

Leia também: Primeiro terreiro restaurado pelo programa Casa Odara em Salvador (BA) é entregue à comunidade

Fernanda Amordivino

Fernanda Amordivino

Estudante de jornalismo na UFRB e integrante do Coletivo Angela Davis - Grupo de Pesquisa Ativista sobre Gênero, Raça e Subalternidades. Possui experiência em radiojornalismo e assessoria de comunicação.

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