O Dia Nacional da Adoção, celebrado neste sábado (25), é uma data que traz à tona reflexões importantes sobre o cenário da adoção no Brasil. Dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma das principais barreiras enfrentadas é a preferência dos adotantes por crianças brancas, com até 3 anos de idade, que não apresentem laços familiares prévios nem condições de saúde que exijam cuidados especiais.
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Esse perfil, porém, não reflete a realidade da maioria das crianças e adolescentes acolhidos. De acordo com as estatísticas, aproximadamente 92% das crianças em busca de adoção possuem mais de 6 anos de idade, e cerca de 48% do sistema é composto por adolescentes entre 12 e 17 anos.
O CNJ também revela que, atualmente, cerca de 30 mil crianças estão cadastradas no sistema aguardando novos tutores. No entanto, apenas 4 mil dessas crianças estão efetivamente disponíveis para adoção.
A disparidade entre o número de crianças cadastradas e aquelas prontas para serem adotadas contrasta com o elevado interesse de pessoas e famílias dispostas a adotar. Estima-se que cerca de 35 mil candidatos estão na fila de espera para adotar uma criança. Contudo, apenas o perfil das crianças disponíveis muitas vezes não corresponde às expectativas de quem aguarda na fila de pais adotivos.
Segundo Alex Araujo, 43, adotado quando criança, o sistema de adoção brasileiro está evoluindo a partir de uma série de processos burocráticos que busca assegurar a qualidade do lar, sem omitir, claro, o cansaço e o desgaste emocional para ambas partes interessadas. Araújo complementa que sua história foi diferente das demais.
“Fui deixado em uma caçamba de entulho pela minha mãe biológica e depois levado a uma igreja Seicho-No-Ie, onde pude ser adotado por uma família incrível. Tive muita sorte dadas as circunstâncias. O que posso dizer do sistema hoje é que por mais que existam um número alto de crianças a serem adotadas, ainda existe muito preconceito em relação a idade e a até mesmo a raça. É uma situação triste que retira parte da humanização do processo”.
Para Alessandro Tomazelli, CEO da Companhia do Tomate – referência em recreação infantil no Brasil – esse cenário aponta para a necessidade urgente de campanhas de conscientização e sensibilização sobre a adoção tardia e a adoção de grupos de irmãos ou crianças com necessidades especiais.
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“A adoção é um ato de amor e transformação, não apenas para as crianças, mas também para as famílias que as recebem. É preciso ampliar o entendimento de que todas as crianças merecem a oportunidade de crescer em um ambiente familiar, independentemente de sua idade, cor, condição de saúde ou situação familiar.”
O CNJ também aponta que aproximadamente 98% das famílias desejam adotar crianças perfeitamente saudáveis, o que reduz as chances de adoção para quem possui necessidades especiais, incluindo aqueles que estiverem dentro do grupo de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA).
Para Alysson Loffi, sócio da Treini Biotecnologia – especializada em tecnologia assistiva – a inclusão de crianças com deficiência, incluindo autistas, no processo de adoção é fundamental para promover valores de igualdade e diversidade na sociedade: “Todos merecem amor, cuidado e oportunidades de crescer em um ambiente familiar amoroso, independentemente de suas habilidades ou desafios”.