Durante o lançamento do “Plano Juventude Negra Viva”, em Ceilândia, no Distrito Federal, nesta quinta-feira (21), o presidente Lula declarou que “não podemos achar normal. Não podemos assistir apáticos ao extermínio da juventude negra do país”. Enquanto o presidente discursa em Brasília para um público com dezenas de pessoas negras, moradores do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, se trancam em casa com medo do intenso tiroteio e dos barulho de bombas. Era uma operação da Polícia Militar. Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver a presença de blindados nas favelas da Nova Holanda e no Parque União.
Enquanto a favela tenta se proteger da violência, a artista Kamila Camillo, moradora do Complexo da Maré, não ouve os tiros, mas sim os aplausos. Kamila é cria da região conhecida como “Tijolinho”, na Nova Holanda, e durante a cerimônia entregou ao presidente Lula uma de suas obras, uma fotografia de um menino negro jogando futebol.
“A Maré hoje amanheceu sob tiros e eu estou aqui em Brasília trazendo uma imagem de uma criança jogando futebol e a entregando ao presidente Lula. Quando eu vejo essa imagem do presidente olhando pra foto e admirando a criança, isso me faz acreditar, cada vez mais, que a fotografia popular traz muito sentido, mas também muita coragem. A favela é para além de potência. É lugar de pessoas que sonham demais e desejam poder estar nos lugares. Nós construímos processos de potência, mas hoje a primeira coisa que eu tenho como desejo, enquanto jovem, é estar viva“, diz Kamila.
Durante o evento, Lula destacou que a sociedade e o governo não pode achar normal, que “todos os dias, pessoas negras, crianças, jovens, adultos e idosos, são vítimas de múltiplas violações de direitos“. Em seu discurso, o chefe do executivo explicou alguns dos objetivos do seu governo.
“Queremos um país com mais justiça social, menos desigualdades e nenhum tipo de discriminação. O racismo e suas consequências perversas, que nossa sociedade resiste tanto a conhecer, se revela todos os dias nos mais diversos ambientes”, acrescentou o presidente.
Essa é uma das missões de Kamila, que também atua com trabalhos sociais em sua comunidade. A jovem carioca conta que presenciou neste dia, políticas públicas sendo direcionadas para o seu povo. “Viver essa experiência de entregar essa obra de arte da Favela da Maré na mão do presidente, me fez entender que a gente pode chegar onde a gente quiser. E eu fiz com que a favela da maré chegasse às mãos do Presidente da República“.
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O protagonista da foto se chama Rodrigo, segundo Kamila, morador da mesma comunidade que ela. “O que me faz acreditar que o meu trabalho vale a pena é ver o Rodrigo feliz dizendo que conheceu o Lula. A família dele é minha família de criação próxima“.
Pensando em um processo de luta coletivo, Kamila ainda destacou a presença da ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, durante a entrega da obra, ao presidente. “A ministra que é da minha comunidade, que tanto tem caminhado e lutado para que nossas políticas públicas possam ser efetivadas“.
Entenda o “Plano Juventude Negra Viva”
O programa, que ao longo de seu desenvolvimento ouviu 6.000 jovens, de todos os 26 Estados brasileiros e do Distrito Federal, em caravanas realizadas em 2023 pelo Ministério da Igualdade Racial, estabelece 11 eixos de atuação articulados entre 18 ministérios. A Secretaria-Geral da Presidência da República, chefiada por Márcio Macêdo, também foi responsável pela colaboração entre os minsitérios.
Em geral, são 43 metas e 217 ações, representando um investimento de R$ 665 milhões.
Lula também pediu a colaboração de todos os ministérios envolvidos no programa, para garantir o sucesso da iniciativa.
“Todo mundo aqui tem a obrigação de colocar o Plano Juventude Negra Viva no cotidiano dos discursos. Porque se cada um falar apenas aquilo do seu ministério as pessoas não sabem. Se cada um só falar das suas coisas não adianta um programa com 18 ministros”, disse.
Os eixos propostos pelo Plano, são: acesso à justiça e segurança pública; promoção da saúde; geração de trabalho, emprego e renda; educação; cultura; ciência e tecnologia; esporte; meio ambiente, garantia do direito à cidade e valorização dos territórios; assistência social; segurança alimentar e nutricional; fortalecimento da democracia.
Para ler o documento e saber mais sobre o Plano Juventude Negra Viva, clique aqui.
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