Segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, o Brasil enfrenta um surto alarmante de dengue, com mais de 688.461 casos prováveis registrados nas sete primeiras semanas do ano. Além do grande número de casos, a dengue já causou a morte de 122 pessoas, enquanto outros 456 óbitos estão sob investigação.
O Distrito Federal, Minas Gerais, Acre, Paraná, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro são os estados mais afetados, com incidência elevada da doença por 100 mil habitantes. De acordo com o ministério, 55% dos casos prováveis são mulheres, e a faixa etária mais afetada pela doença é a de adultos entre 30 e 39 anos.
O fenômeno El Niño tem sido apontado como um dos principais fatores para o aumento dos casos, pois eleva a temperatura e favorece a reprodução do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya.
Segundo a infectologista Sylvia Lemos, a proliferação da Dengue, principalmente nos estados mais afetados, está intimamente ligada à manutenção do ambiente onde o mosquito Aedes Aegypti se reproduz. Ela ressalta que locais como túneis, residências e áreas periféricas, especialmente após períodos chuvosos, tornam-se propícios para a formação de focos do mosquito transmissor da doença.
“O que contribui para a Dengue, principalmente nos estados onde existem mais casos, está muito relacionado à manutenção do mosquito, em túneis, em casa, canais com lixo, o redor, periferia das áreas, principalmente quando tem chuvas e que fica resto de água em locais”, explica a especialista.
O aumento exponencial de casos ainda é um desafio para o sistema de saúde, que pode ficar sobrecarregado. A infectologista Sylvia Lemos enfatiza a importância de ações comunitárias, como mutirões de limpeza e campanhas de conscientização, para combater a proliferação do mosquito.
“Comunidades podem adotar mutirões: “Xô mosquito”, “vamos trabalhar o lixo ao redor”, “vamos evitar acúmulo de água”, fazer inspeções, ajudar com que haja uma conscientização das pessoas para não deixar restos de água em locais que possam ter a proliferação do mosquito Aedes aegypti”, destaca.
Toda essa situação preocupante ocorre antes do período tradicional de pico da doença, que normalmente acontece entre março e abril. Em 2023, o país atingiu a marca de 688 mil casos apenas na 14ª semana epidemiológica, no início de abril.
Preços de testes de dengue e repelentes aumentam
Uma pesquisa realizada por agentes do Procon-RJ em dez laboratórios que oferecem testes para detecção do vírus da dengue, revelou uma variação máxima de preço de 276,19% e uma mínima de 42,17%.
Os laboratórios na capital e na região metropolitana do Rio de Janeiro foram visitados na última segunda-feira (19) e terça-feira (20). Cássio Coelho, presidente do Procon-RJ, autarquia de proteção e defesa do consumidor do estado, afirmou nesta terça-feira (20) que as informações coletadas pelos agentes serão analisadas e, se forem encontradas violações ao Código de Defesa do Consumidor, as empresas serão multadas.
O Presidente destacou a atenção constante do Procon-RJ às variações de preços dos testes, e expressou preocupação com os aumentos injustificados nos custos dos testes de detecção do vírus da dengue. Alertou que, caso sejam observados aumentos excessivos tanto nos repelentes quanto nos testes, medidas serão tomadas, incluindo notificações aos fornecedores e laboratórios.
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Além disso, encorajou os consumidores a reportarem qualquer preço abusivo para os testes de dengue através do WhatsApp (21) 98104-5445 ou do site do Procon-RJ.
O presidente Cássio Coelho também apontou uma pesquisa em andamento sobre repelentes, revelando variações consideráveis de preços para o mesmo produto dentro da mesma região. Na zona norte do Rio, por exemplo, foi observada uma variação de 66,11% para o mesmo repelente. Na zona sul, a flutuação atingiu 43,32% para repelentes idênticos.
Ele afirmou que os fornecedores não devem explorar as necessidades urgentes dos consumidores para obter vantagens excessivas, violando regulamentos. “O Procon não tolerará esse comportamento“. Em São Paulo o órgão também registrou um aumento dos repelentes.
Um levantamento sobre preço do produto, feito pela Fundação Procon-SP, constatou aumento de 15,78% em média, com diferenças que chegaram a 84,19% para um mesmo produto em estabelecimentos diferentes, entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano.
Recomendações para se proteger contra a dengue
A infectologista Sylvia Lemos ressalta a importância do uso de repelentes, especialmente para grupos vulneráveis, como gestantes, e a adoção de medidas para evitar o acúmulo de água em recipientes dentro e fora das residências. “
A atenção às pessoas, é importante que elas usem repelentes, principalmente grávidas, evite usar roupas sem manga, exposta, que é difícil num país tropical como o nosso, quente, como a gente tem”, alerta a especialista.
Diante do aumento dos casos de Dengue e da preocupação com a propagação da doença, a infectologista enfatiza a necessidade de uma abordagem coletiva para combater a epidemia. “Então é muito importante que esse ao redor seja realmente trabalhado, limpo e observado para que não haja a possibilidade do mosquito se proliferar. Esse é um grande problema”, conclui.