Babalorixá David Dias lança livro sobre os impactos do sincretismo na Umbanda

Banner-1-edited.png

Resgatar a ancestralidade negra da Umbanda após um intenso processo de apagamento de suas raízes é a proposta de David Dias, Babalorixá, Mestre em Ciência da Religião pela PUC-SP e sacerdote do Terreiro Aruanda, comunidade de Umbanda localizada no bairro do Ipiranga, na capital paulista, que tem uma atuação expressiva na preservação da cultura umbandista a partir de uma ideologia e filosofia negra.

Como pesquisador do sincretismo nas religiões de matrizes africanas, sobretudo das sequelas provocadas nos terreiros de Umbanda, acaba de lançar a pré-venda do livro ‘Sincretismo na Umbanda – Pactos e impactos na identidade dos povos de terreiro’, com distribuição oficial a partir de 2 de fevereiro.

O livro busca resgatar memórias negras dentro da Umbanda – Foto: Divulgação

Esse é o primeiro título da Editora Encruzilhadas, selo independente idealizado pelo sacerdote com o objetivo de difundir os saberes africanos e afro-diaspóricos por meio de um catálogo exclusivo, no qual pretende abranger temas como a cultura de terreiro, ancestralidade, espiritualidade africana, comida ancestral, sincretismo religioso, religião e política.

As produções culturais, audiovisuais, literárias e acadêmicas são as principais ferramentas utilizadas pelo Aruanda na luta pela preservação de saberes ancestrais. Fundado há 13 anos por David Dias, hoje é a maior comunidade do Brasil com área útil de 1.500 metros quadrados, onde recebe cerca de 500 visitantes semanalmente em cultos religiosos, cursos e eventos.

O complexo também abriga o Aruanda Studios, espaço dedicado à produção audiovisual de conteúdos, a plataforma de ensino Aruanda EAD sobre cultura e saberes umbandistas, e os estúdios dos podcasts “Aruanda Podcast” e Atina pra Isso!”.

O espaço já recebeu nomes como Luiz Antônio Simas, professor e historiador, MC Tha, cantora e compositora brasileira e Wagner Marques, Professor de História da Faculdade Sumaré, Mestre em Ciência da Religião, Doutor em História Social (PUC-SP), autor do livro ‘Fé e Crime – Evangélicos e PCC nas periferias de SP’. Além de ouvintes no Brasil, os programas de áudio impactam mais de 15 países e somam, em média, 40 mil plays mensais.

O Sacerdote também é fundador do Terreiro Resiste, um movimento da sociedade civil que desenvolve ações públicas e tem como proposta fundamental combater toda e qualquer articulação que tenha como consequência ou finalidade destituir de integridade física, moral ou intelectual as comunidades tradicionais de terreiro e as pessoas que fazem parte delas.

Como resultado, o movimento propõe resguardar o direito de liberdade plena de culto garantido na Constituição Federal de 1988, Art 5º, VI  (que preserva a laicidade na sociedade). Para isso, articula ações sociais e jurídicas que buscam erradicar os atos que representam as várias formas de abuso e garantir punição judicial. 

A iniciativa transcende os espaços de terreiros e busca entender não apenas a religião, mas a sociedade em que está inserida, por isso participa e contribui ativamente na luta contra todo o tipo de opressão e violência. O primeiro ato do Terreiro Resiste aconteceu em setembro de 2021, na Avenida Paulista, em manifestação contra o governo genocida do ex-presidente da república Jair Bolsonaro.

O movimento também esteve presente na 18ª Marcha da Consciência Negra e na  8ª Marcha das Mulheres Negras, em homenagem ao Dia Internacional da da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Entre as atividades, o Aruanda foi palco do 1° Encontro de Formação do Emancipa Axé, uma iniciativa da Rede Emancipa, movimento social de educação popular coordenado pela Codeputada estadual do PSOL, Ana Laura.

A educação também é uma ferramenta importante para o Terreiro Resiste, diante da capacidade de emancipação, preservação e  reconhecimento de práticas afro-diaspóricas que contribuem para o fortalecimento da identidade do povo preto e de terreiro.

Seguindo essa agenda, em novembro o movimento dialogou com professores da rede pública de ensino da Escola César Marengo, na chácara Belenzinho, zona leste de São Paulo, sobre o processo de racialização de crianças negras e a necessidade de reafirmar o compromisso antirracista por meio de letramento de professores e professoras. 

Sobre o livro ‘Sincretismo na Umbanda – Pactos e impactos na identidade dos povos de terreiro’: 

Não há cultura sem sincretismo! Portanto, este é um dos caminhos para se iniciar a compreensão das culturas de matrizes africanas, como a Umbanda. É neste território, onde o imponderável se circunscreve de tal modo, que o autor desvela suas inspirações, inquietações, dúvidas e respostas temporárias referentes às relações estabelecidas entre a Umbanda e os impactos de seus atravessamentos culturais, sociais e religiosos.

Numa busca intrépida, o autor escava o terreno histórico do sincretismo, desvelando suas raízes e mecanismos de reprodução nos dias atuais. Através de diálogos vivos, o livro transcende as superficiais equiparações de santos católicos a orixás, mergulhando nas nuances do sincretismo enquanto fenômeno em constante evolução.

A obra é um convite para compreender o sincretismo não apenas como um fenômeno religioso, mas como uma força dinâmica capaz de nascer, crescer, se desenvolver e se reinventar diante das transformações da sociedade. Ao virar cada página, somos convidados a explorar o mosaico multifacetado dos terreiros espalhados Brasil afora, onde o sincretismo se revela não apenas como um tema de pesquisa, mas como uma vivência que atravessa identidades, memórias e a existência do povo negro dos terreiros.

David Dias é sacerdote de Umbanda no Terreiro Aruanda, localizado no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Mestre em Ciência da Religião pela PUC-SP, pesquisa o sincretismo nas religiões de matrizes africanas, sobretudo as sequelas provocadas nos terreiros de Umbanda.

Leia também: Museu das Favelas em São Paulo realiza a segunda edição do ‘Abre-Caminhos’

Natural de São Paulo, é fundador do Aruanda Studios, espaço dedicado à produção audiovisual de conteúdos produzidos predominantemente para pessoas de terreiro. É fundador do Aruanda EAD, plataforma de ensino sobre cultura e saberes umbandistas e apresentador dos podcasts “Atina pra Isso!” e “Aruanda Podcast”.

Deixe uma resposta

scroll to top