Novas chamadas, em parceria com FAPs, são voltadas tanto a pesquisadores com cargo permanente em instituições quanto a pós-docs – esta última exclusiva a negros e indígenas
Jovens cientistas que atuam no Brasil poderão concorrer a duas novas oportunidades de financiamento para suas pesquisas. O Instituto Serrapilheira lançou novas chamadas públicas de apoio a pesquisadores. Uma delas é voltada a cientistas com vínculo permanente em instituições de ensino e pesquisa e com projetos nas áreas de ciências naturais, matemática e ciência da computação.
A outra é destinada a cientistas negros e indígenas que não tenham esse vínculo e que pretendam fazer o pós-doutorado na área de ecologia. Ao todo, serão selecionados até 42 pesquisadores nos dois editais, que ocorrem em parceria com FAPs (fundações de amparo à pesquisa) de diferentes estados. As inscrições vão de 4 de janeiro a 25 de janeiro de 2024.
Juntas, as iniciativas preveem investimento de no mínimo R$ 21 milhões, entre pagamento de bolsas e financiamento de pesquisas. O valor total, que deve crescer, dependerá da quantidade de recursos que cada FAP disponibilizará – o que, por sua vez, só será definido depois que a seleção dos candidatos estiver concluída e os estados dos escolhidos forem conhecidos.
O objetivo dos dois editais é criar condições para jovens cientistas do Brasil desenvolverem suas pesquisas com recursos financeiros e autonomia na escolha dos projetos.
Os editais completos podem ser acessados no site do Serrapilheira.
“Ao lançar novas chamadas em parceria com as FAPs, avançamos no objetivo de ampliar o apoio a jovens cientistas fazendo perguntas fundamentais, com o risco e o sonho de oferecer grandes contribuições às suas áreas de atuação”, afirma Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira. “Após as experiências anteriores, atestamos cada vez mais que parcerias público-privadas efetivas são um bom caminho para o avanço da ciência, pois somamos a flexibilidade do financiamento privado à relevância do investimento público para o desenvolvimento do país“.
Para Odir Dellagostin, presidente do Confap, conselho que reúne as fundações de amparo à pesquisa, a colaboração com o Instituto Serrapilheira “fortalece o suporte à pesquisa no Brasil, promovendo uma sinergia aprimorada e complementaridade na escolha e financiamento de projetos de pesquisa de alto risco e impacto”. “Essa parceria resulta em vantagens para a comunidade científica e para a sociedade em geral, proporcionando um aumento significativo na capacidade de financiamento de projetos”.
Embora lançadas no mesmo dia, as duas chamadas têm propostas distintas e seguirão processos seletivos separados. Veja um resumo de cada uma delas.
7ª chamada pública de apoio à ciência
O edital é voltado a cientistas em início de carreira com projetos de pesquisa originais, ousados e arriscados nas áreas de ciências naturais (ciências da vida, física, geociências e química), matemática e ciência da computação. Serão selecionados entre 10 e 30 projetos que busquem responder a uma grande pergunta fundamental nessas áreas –ou seja, que questionem o conhecimento científico atual, que abram novas perspectivas de avanço ou que aprofundem o que já se sabe em cada área. Os aprovados receberão entre R$ 200 mil a R$ 700 mil cada, distribuídos ao longo de cinco anos. Eles também terão acesso a recursos extras para investir na formação e inclusão de pessoas de grupos sub-representados em suas equipes, o chamado bônus da diversidade.
Podem participar cientistas que tenham doutorado concluído e vínculo com instituições de ensino superior e pesquisa como professores e pesquisadores. Esse vínculo deve ter sido firmado pela primeira vez entre 1º de janeiro de 2018 e 31 de dezembro de 2023, o equivalente aos últimos seis anos – o prazo aumenta em dois anos para mulheres com filhos.
O novo edital é feito em parceria com o Confap, conselho que representa fundações estaduais de amparo à pesquisa, e com 25 FAP’s. O financiamento pode ocorrer tanto de forma conjunta pelo Serrapilheira e fundações quanto diretamente por essas instituições.
2ª chamada de apoio a pós-docs negros e indígenas em ecologia
Além da 7ª chamada de apoio à ciência, o Serrapilheira lança também a segunda edição do edital exclusivo para cientistas negros e indígenas. O foco são pesquisadores que tenham projetos na área de ecologia e que almejam obter, a médio prazo, uma posição formal como professor ou pesquisador. O objetivo é aumentar a participação desses grupos sub-representados na carreira científica.
Podem participar pesquisadores que tenham concluído o doutorado entre 1º de janeiro de 2013 e 30 de junho de 2024, prazo que também se estende em dois anos no caso de mulheres com filhos. Os interessados não devem ter vínculo formal com nenhuma instituição de ciência e tecnologia no momento da assinatura do contrato.
Serão selecionados até 12 candidatos. Os aprovados vão fazer pós-doutorado em grupos de pesquisa nos quais não tenham se formado nem atuado antes, nos estados das FAPs parceiras do edital: Mato Grosso do Sul (Fundect), Pará (Fapespa) e Rio de Janeiro (Faperj).
Além de bolsa mensal de R$ 8 mil, os selecionados vão receber entre R$ 550 mil e R$ 700 mil para o financiamento da pesquisa durante três anos, renováveis por mais dois anos. O pagamento das bolsas virá das FAPs. Já o auxílio à pesquisa será custeado por essas entidades em parceria com o Serrapilheira.
“Em nossa primeira chamada exclusiva para grupos sub-representados na ciência, lançada em parceria com a Faperj, selecionamos 12 cientistas negros e indígenas de excelência, e outros tantos ficaram de fora. Ficamos felizes em repetir a experiência, agora com mais FAPs parceiras e incorporando nosso aprendizado ao longo do processo”, destaca Cristina Caldas. “Se não mudarmos a forma de seleção, cientistas negros e indígenas de excelência seguirão sendo excluídos do fazer científico, e todos os candidatos continuarão parecidos“.
Sobre o Serrapilheira
Criado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$ 80 milhões investidos.
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