O Bolsa Família pode tirar até 10,7 milhões de pessoas da pobreza neste ano, mas 45 milhões de brasileiros ainda permanecerão nesta condição. Ao todo os negros devem representar 71% desse número, ou seja 32,5 milhões, segundo estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP).
O estudo foi solicitado pela BBC News Brasil e revela que os negros representam 71% dos pobres e 75% dos extremamente pobres, ou seja representam 3 em cada 4 brasileiros na pobreza, apesar de serem 56% da população de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A redução da pobreza pode representar 20% devido ao aumento do valor do benefício e orçamento do programa. Ano passado, o orçamento do Bolsa Família foi de R$30 bilhões, no ano de 2023 subiu para R$175 bilhões.
O levantamento considera ainda os índices do Banco Mundial, as famílias que tem renda diária de U$1,90 por dia são consideradas na extrema pobreza e as que tem renda diária de U$5,50 estão na linha da pobreza.
Mesmo com aumento do investimento, “o racismo sustenta o país de tantas formas que as pessoas nem percebem, que você não consegue resolver o problema do racismo sem resolver outros problemas também”, disse Luiza Nassif-Pires, diretora do Made-USP, uma das autoras do estudo.
Os valores em reais em junho de 2023 representam, R$185,00 mensais para famílias na extrema pobreza e R$536,00 mensais para família na linha da pobreza, os números são corrigidos por Paridade de Poder de Compra (PPC) entre as moedas e descontando a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O estudo foi realizado usando como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) anual do IBGE para os anos de 2003 a 2015 e a atual Pnad Contínua que compreende entre 2012 e 2023, que é realizada mensalmente por amostra de domicílios e mantém os principais dados de renda, emprego e indicadores socioeconômicos atualizados.
No ano em que completa vinte anos e o Valor do Bolsa Família bate recorde por família chegando a R$672,00, os pesquisadores chegaram a conclusão que “o novo Bolsa Família não pode, sozinho, enfrentar todos os obstáculos estruturais a uma maior equidade e inclusão social”, revelaram em entrevista a BBC.
De acordo com o Made-USP, 82 milhões (47%) de brasileiros viviam na pobreza em 2003 e quase 25 milhões (14%) na extrema pobreza, em 2023 esses números podem chegar a 45 milhões (21%) na pobreza e 3 milhões (1,4%) na extrema pobreza. Sem o Bolsa Família 56 milhões (26%) viveriam na pobreza e 18 milhões (8,3%) na extrema pobreza.
Mas, mesmo com eficiência do programa, a diretora do Made-USP relembra que a discriminação de raça e gênero são pilares que sustentam a economia do Brasil. Além disso ela acredita que a economia do cuidado que vem sendo discutida no governo “é essencial”.
A economista fez críticas ao novo arcabouço, “o novo arcabouço fiscal é uma política de austeridade e coloca em xeque a possibilidade de continuidade de políticas públicas essenciais, por exemplo, o piso constitucional para despesas com saúde e educação”, afirmou Luíza.
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