Um estudo inédito realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) divulgado nesta quinta-feira (27) revelou que 8 em cada 10 brasileiros acham que o Brasil é um país racista. Isso significa que das 2 mil pessoas ouvidas em todo o país, 81% concordam com essa afirmação, 60% concordam totalmente e 21% concordam em parte.
A pesquisa “Percepções sobre o racismo no Brasil” foi feita a pedido do Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista), e ouviu pessoas de diversas regiões com mais de 16 anos. Dos entrevistados, 51% afirmam que já presenciaram algum caso de racismo, e 96% da população declara que as pessoas pretas são as que mais sofrem racismo.
Além disso, os dados mostram que 88% da população brasileira reconhece que pessoas negras são tratadas de forma diferente pela polícia, a partir do tipo de cabelo e tipo de vestimenta. Seguindo essa linha, 76% dos entrevistados acreditam que a cor da pele seja determinante para as abordagens policiais, sendo as pessoas negras os principais alvos, e por isso, pessoas brancas e negras são tratadas de forma diferente pela polícia para 84% das pessoas ouvidas.
Apesar de reconhecerem o sistema racista, e a influencia disso na vida de pessoas negras, apenas 11% afirmam que têm atitudes ou práticas racistas e que 12% que sua família é racista, e 46% afirma conviver com com pessoas que sofrem racismo.
Por conta disso, a pesquisa demonstra que apesar de reconhecer o Brasil como um país racista, a população brasileira tem dificuldade de reconhecer os casos de racismo em suas experiências pessoais. Também se destaca no levantamento, que mesmo que reconheçam o racismo, apenas 65% das pessoas defendem totalmente a criminalização do racismo no país.
Sobre como o racismo se manifesta, a violência verbal, como xingamentos e ofensas, é o que 66% dos entrevistado mais reconhece o racismo. Logo depois o tratamento desigual, com 42%, e a violência física, como agressões, com 39%.
Racismo em ambientes acadêmicos
A pesquisa também abordou o racismo dentro de ambientes direcionados a aprendizagem. Dos entrevistados que afirmaram já ter sofrido racismo, 38% apontam a escola, faculdade ou universidade como locais onde essa violência ocorreu. Dos entrevistados, 13% também relataram que estudam em instituições educacionais racistas.
Ainda entre os jovens, de 16 a 24 anos, 64% apontaram o ambiente educacional como o lugar que mais sofrem racismo. Na educação básica, as agressões físicas fizeram parte de 29% as pessoas negras entrevistadas.
As mulheres negras são as que mais percebem esse comportamento. De acordo com o levantamento, 63% das pessoas que mais percebem que raça/cor é o principal motivador de violência nas escolas, são mulheres negras.
Quase 50% dos entrevistados acreditam que o país não tem políticas públicas o suficiente para pessoas negras, e 74% da população concorda com a reserva de vagas instituições de ensino superior, concursos públicos e empregos em empresas privadas destinadas a população negra e/ou indígena.
Já sobre a lei que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas (lei federal 10.639/2003), que completa 20 anos este ano, apenas 46% aprendeu sobre o assunto, 37% sobre racismo, 25% história e cultura africana.
Leia também: Famílias chefiadas por pessoas negras são duas vezes mais atingidas pela fome, diz pesquisa