No ar em “Vale Tudo”, Ricardo Teodoro fala sobre ser considerado galã: “ não cresci vendo homens como eu nesse lugar de desejo nas novelas”

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No ar na novela “Vale Tudo”, exibida pela Rede Globo no horário nobre, o ator Ricardo Teodoro vive uma fase marcante na televisão e no cinema. Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, ele falou sobre o desafio de interpretar “Olavo” na nova versão da trama, autoestima e celebrou a repercussão internacional de seu trabalho no filme “Baby”.

O público tem visto Olavo como galã, algo que, para Ricardo Teodoro, carrega um peso simbólico. “Eu não cresci vendo homens como eu nesse lugar de desejo nas novelas. Então, de alguma forma, isso fala sobre autoestima, novas perspectivas de beleza e pertencimento. Se hoje me colocam nesse espaço, entendo como consequência dessa construção e também como reflexo de um novo tempo”, afirmou.

Na primeira versão, o personagem foi interpretado por Paulo Reis, um homem branco. Para Teodoro, assumir o papel significa respeitar a memória do colega e, ao mesmo tempo, trazer sua própria identidade.

Antes de tudo, eu preciso enaltecer o trabalho do Paulo Reis, que deixou uma marca muito forte. Assumir o personagem agora é dialogar com essa memória, mas também mostrar o Olavo em outras facetas”, disse. Segundo ele, a construção atual trouxe novas camadas: “Apresentei um Olavo mais solar, descontraído, mas que no trabalho se revela sério, até duro. E ao atravessar o personagem com a minha identidade, algumas nuances mudam naturalmente, no olhar, na forma de ocupar espaço, na relação com os outros”.

Ricardo Teodoro está no ar em Vale Tudo Foto: Philipp Lavra

Ao recriar Olavo, Teodoro buscou mostrar mais humanidade. “Quis que ele fosse vulnerável, que se sensibilizasse com as coisas ao redor. Um homem que corre atrás, que luta, que erra, mas também é sensível. Isso me interessava muito: mostrar força e, ao mesmo tempo, fragilidade”, destacou.

Com quase 20 anos de carreira, o ator vê os avanços recentes da presença negra na TV e no cinema como fruto de resistência. “Antes de mim, vieram artistas como Zezé Motta, Tony Tornado e Milton Gonçalves, que abriram caminhos quando o espaço era quase inexistente. Hoje é emocionante ver esse movimento ganhar corpo, mas também é um lembrete de que ainda há muito a avançar. O fundamental é que não seja apenas tendência, mas transformação estrutural”, ressaltou.

Em 2024, Ricardo foi premiado por sua atuação no filme Baby, que aborda questões LGBTQIA+. A produção conquistou seis troféus de atuação, incluindo quatro em festivais internacionais: Cannes, Huelva, Lima e Lyon.


Baby nasceu de forma íntima e quase artesanal, e ver esse filme ganhar o mundo foi transformador. Em Cannes, me tornei o primeiro ator negro brasileiro a ganhar um prêmio de atuação, e isso tem um peso simbólico enorme. Já o Troféu Grande Otelo, no Brasil, trouxe para mim um significado imenso, porque é um reconhecimento dos meus pares. Esses prêmios mostram que histórias queer brasileiras têm potência universal”, afirmou.

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