Kairu-Edé: livro de quadrinhos sobre distopia, futurismo e espiritualidade é lançado em Salvador

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Uma Salvador inundada por uma tsunami, em um tempo onde a Inteligência artificial suprimiu a memória social, em um mundo com eminentes pandemias, um menino negro encontra na espiritualidade ancestral uma via de salvação. Kairu-Edé – guerreiro fantasma, título que leva o nome do personagem principal, é o primeiro livro do quadrinista soteropolitano Darwiz Bagdeve, e terá três eventos de lançamento em Salvador.

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A obra será lançada neste sábado (17), na Sala de Arte do Cinema do Museu, no Corredor da Vitória. A realização é uma parceria das produtoras Ojú Odé e Obá Cacauê, o lançamento em territórios periféricos, em parceria com a Escola Criativa Boca de Brasa, reforça o protagonismo negro construído na obra e busca fomentar a literatura de quadrinhos nesses espaços.

Darwiz Bagdeve é um autor negro, com descendência árabe, que encontrou no desenho e na literatura de quadrinhos um modo de desviar das violências raciais que enfrentou durante a infância. Depois de lidar com bullying dos colegas de escola por causa de sua cor de pele e traços negros, se fechava no quarto para construir um mundo próprio, onde podia ter controle sobre as narrativas e construir sua própria história.

Livro em quadrinhos Kairu-Edé /Foto: Divulgação

Em 2002, um encontro acolhedor com um dos maiores quadrinistas brasileiros, Maurício de Souza, foi como uma injeção de ânimo para que o então adolescente se jogasse mais e mais nos estudos e na criação de quadrinhos. Apesar de percalços, bloqueios criativos e alguns desencontros, Darwiz nunca deixou de criar, desenhar e escrever.

Em 2015, ganhou o 1º lugar no Festival 24h de Quadrinhos, organizado pela RV Galeria de Arte. A história premiada retratava uma aventura de Dango (Daniélio Goldano), um menino de 8 anos cujo melhor amigo mais velho, de 12, é LGBT, descobrindo o valor da amizade e enfrentando valentões da vizinhança. A narrativa se desdobrou e o autor construiu a história de Lucília, mãe de Dango, personagem que o levou a publicizar pela primeira vez na internet seu trabalho como quadrinista, quando abriu uma página no Instagram em 2017. As histórias de Lucília fizeram sucesso e consolidaram o nome de Darwiz no mercado baiano de quadrinhos.

O autor ressalta que Salvador vive um momento bastante frutífero na literatura de quadrinhos, inclusive a partir de uma ótica afrocentrada, mencionando alguns de seus contemporâneos e conterrâneos como Anderson Shon e Daniel Cesart, autores do livro “Estados Unidos da África”, Hugo Canuto, autor de “Contos dos Orixás”, Breu, autor de “O Mago Moderno”, e Dyo, autora de “Vade Retro”.

Kairu-Edé é uma narrativa repleta de insígnias e mistérios. Algumas coincidências com acontecimentos reais trazem à obra uma tônica premonitória. Escrita durante a pandemia, a obra retrata um mundo em curso de destruição, com doenças, inundações e avanço das tecnologias sobre a humanidade. Dentre os episódios narrados no livro, o vulcão Cumbre Vieja entrou em erupção em setembro de 2021, depois de 50 anos de inatividade, pouco depois da HQ ser anunciada na internet.

O evento, que surpreendeu o autor pelo efeito de previsão de sua narrativa, felizmente não deixou vítimas. Infelizmente não foi o mesmo caso do Rio Grande do Sul, estado sede da gráfica que imprimiu os exemplares de Kairu-Edé, inundada pelas enchentes deste ano bem no dia que iria iniciar as impressões. A tragédia demandou um longo adiamento do lançamento e, mais uma vez, surpreendeu pela ligação coincidente com a história do quadrinho.

Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

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