O jornal francês Le Monde publicou, na última quinta-feira (19), uma investigação acusando o presidente Emmanuel Macron de fazer comentários racistas. Segundo a reportagem, Macron teria dito ao então ministro da Saúde, em 2023, que “o problema com as salas de emergência do país é que elas estão cheias de Mamadou” — um nome popular entre africanos da África Ocidental. O Palácio do Eliseu negou veementemente a fala, classificando-a como “falsa” e alegando que as declarações não foram checadas com a Presidência antes da publicação.
Apesar da negativa oficial, a jornalista Ivanne Trippenbach, uma das autoras da investigação, afirmou na rede social X que o jornal mantém a veracidade das informações. A publicação reacendeu críticas de parlamentares e movimentos sociais, especialmente de esquerda, que classificaram as declarações como racistas. Manuel Bompard, líder do partido A França Insubmissa (LFI), descreveu a fala como “um insulto ao país” e pediu a saída de Macron.
Essa não é a primeira vez que o presidente francês é acusado de proferir declarações preconceituosas. O Le Monde revelou outros casos, como um suposto apelido homofóbico atribuído ao gabinete do primeiro-ministro e o uso de termos sexistas para se referir a lideranças femininas da política francesa. Além disso, na última quinta-feira, durante visita ao arquipélago de Mayotte, no Oceano Índico, Macron declarou: “Vocês deveriam estar felizes por estarem na França, porque se [Mayotte] não fizesse parte da França, vocês estariam 10 mil vezes mais na merda”. A fala gerou revolta entre os moradores locais.
Crise de popularidade e desafios do governo
A sucessão de polêmicas ocorre em meio à crise política enfrentada pelo governo de Macron, agravada pela antecipação das eleições legislativas para junho de 2024. A decisão resultou na queda do então primeiro-ministro Michel Barnier, e a popularidade do presidente atinge níveis historicamente baixos desde sua eleição, em 2017.
O descontentamento público é especialmente visível entre as comunidades negras e imigrantes na França. Dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (INSEE) mostram que cerca de 10% da população francesa é composta por descendentes de africanos. Durante a eleição de 2022, análises apontaram que a maioria dos eleitores negros optou por candidatos de esquerda, indicando um distanciamento significativo do eleitorado de Macron.
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Racismo estrutural em pauta
As declarações atribuídas a Macron reforçam debates sobre racismo estrutural na França, onde descendentes de africanos continuam a enfrentar desigualdades em áreas como saúde, educação e mercado de trabalho. Organizações como a SOS Racisme criticam a falta de políticas inclusivas e apontam que comentários como o relatado pelo Le Monde perpetuam estigmas que afetam milhões de pessoas no país.
Embora o Palácio do Eliseu negue as acusações, o impacto das denúncias já é perceptível. Movimentos antirracistas e parlamentares prometem intensificar as cobranças ao governo, exigindo respostas e mudanças concretas.