Ex-diretor da Globo assume ter sido racista com elenco de “Nos Tempos do Imperador”

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O ex-diretor da rede Globo Vinicius Coimbra, demitido em março de 2022, admitiu atitude racista com atores negros da novela “Nos Tempos do Imperador”. Entretanto, negou as acusações de ter segregado os atores nos bastidores.

Ele foi acusado de ser agressivo verbalmente ao longo das gravações da novela e de ter emitido falas racistas. Segundo relatos, durante uma cena em uma cidade cenográfica da Globo, ele disse: “Elenco pra esse lado, negros pro outro lado “. Uma atriz questionou a postura de Coimbra, mas foi ignorada pelo diretor. “E eu que sou do elenco e sou negra, de que lado fico?”, perguntou ela.

Coimbra foi demitido da emissora em 2022. Foto: Reprodução/ TV Globo

Em entrevista à colunista Cristina Padiglione, da Folha de S. Paulo, o ex-diretor contou que as vítimas fizeram um pedido de  reparação financeira contra ele, mas a “contraproposta não foi aceita”.

“Durante essa conversa, houve um pedido de reparação financeira, partindo deles [os atores], que estava além das minhas possibilidades. Dias depois, devolvemos uma contraproposta que julgamos proporcional à minha parcela de responsabilidade e condizente com a prática judicial brasileira no tema de dano moral. Tudo para tentar compor esse dano de relação, reconhecido por mim como existente e por eles como não-intencional. Nossa contraproposta não foi aceita, e há oito meses não temos mais contato”, disse Coimbra.

As denúncias feitas pelas atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Dani Ornellas apontaram que Coimbra separou negros e brancos nos camarins. Ele negou as acusações e disse que a distribuição dos camarins era responsabilidade de outro setor.

Atrizes e atores negros denunciaram segregação no camarim. Foto: Reprodução/ TV Globo

“Definitivamente, não é atribuição do diretor artístico. Nem a ordem de caracterização na sala de maquiagem, no refeitório, a elaboração dos diversos protocolos de segurança e outros inúmeros procedimentos que envolvem a produção de uma novela”, disse ele.

E continuou. “De qualquer forma, quando os artistas me trouxeram estas queixas, levei-as aos departamentos responsáveis. Especificamente sobre os camarins, o que me foi explicado na época era que o critério de distribuição se relacionava com o número de cenas que determinado artista gravava naquele dia, a dificuldade de locomoção dos figurinos e a proximidade da porta do estúdio. Sobre a política salarial da empresa, como diretor artístico, não tinha nenhum acesso”.

Vinicius Coimbra contou em entrevista que tentou conversar com os atores. “Criei um grupo com os artistas negros e a supervisora de texto intitulado Diálogos. Um canal direto para que pudessem trazer mais rapidamente qualquer problema nos bastidores, ou sugestões ao texto, caso quisessem, sem nenhuma obrigação”, afirmou.

Ele disse que guardou as conversas como prova. “Explico isso em mensagens no grupo. Naquele momento, tentei fazer o que estava ao meu alcance, tanto na esfera do que era minha responsabilidade quanto no que diz respeito a terceiros. Tenho inúmeras mensagens no grupo tentando conciliar e aliviar os desconfortos”.

Sobre a forma de conduzir a novela, ele também comentou. “Tentei cuidar dos artistas também através da obra, para que todos fossem felizes com seus personagens. Mas hoje entendo que errei ao ter uma conversa somente com artistas negros e também ao criar um grupo com eles. O que para mim era um cuidado, para eles pode ter sido um incômodo. Pedi-lhes desculpas por isso durante a novela, algumas vezes”, afirmou.

O ex-diretor então finalizou fazendo uma reflexão sobre privilégio branco.
“São revisões que precisam ser feitas, de atitudes conscientes e inconscientes. Vivemos num sistema de privilégios herdado da época escravagista que favorece as pessoas brancas em prejuízo das pessoas negras há séculos. Se você se beneficia desse sistema, sem fazer nada para mudar, você está sendo racista”, concluiu.

Leia também: TV Globo convoca elenco para apurar racismo de diretor e equipe da novela “Nos tempos do Imperador” 

Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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