A dependência química, seja de drogas lícitas ou ilícitas, é reconhecida como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afetando cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade. O uso abusivo de substâncias químicas representa um grave problema de saúde pública, afetando não apenas o indivíduo, mas também suas relações sociais e sua vida profissional.
Esse padrão de consumo pode levar à dependência química, caracterizada por um desejo compulsivo de continuar usando a substância, apesar das consequências adversas à saúde.
Especialmente nesta terça-feira (20), é comemorado o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, uma data que tem o objetivo de mostrar à população sobre os danos que o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas podem causar para o usuário, sobretudo, para o organismo.
“Quando a gente vai falar sobre quais fatores podem contribuir para a dependência, a gente pode destacar fatores psicológicos, como principalmente a questão do contexto social que esse indivíduo se encontra. se esse indivíduo, ele já tem um histórico de inseguranças, ele já tem um histórico de algum ambiente familiar desestruturado ou alguma predisposição genética e também alguns fatores sociais relacionados”, destaca o psicólogo Bruno Sá.
“Por exemplo, aquela pessoa, ela já vem passando por uma situação de sofrimento onde gera-se uma série de gatilhos. Ela pode utilizar o álcool ou as drogas como um escape, como uma fuga para tentar aliviar essa dor”, acrescenta.
Prevenção na Juventude
Segundo o Dr. Marcelo Soares Costa, Diretor do CAPS AD, em São Luís (MA), terapeuta especialista em saúde mental e no tratamento de dependência química, o cérebro jovem está em processo de maturação até aproximadamente os 20 anos de idade, é fundamental direcionar esforços preventivos especialmente para essa faixa etária. Ele alerta ainda que a maioria dos adolescentes começa a consumir álcool por volta dos 11 ou 12 anos de idade.
Essa primeira exposição, segundo ele, geralmente ocorre em casa, muitas vezes iniciada por parentes mais velhos, como tios, pais, primos ou amigos da família. Como o álcool é considerado uma droga socialmente aceita, há uma ideia de que ele não causa problemas significativos ou consequências, e, portanto, os adolescentes deveriam aprender a consumi-lo em casa.
“O problema é que nessa faixa-etária, até os 20 anos, ainda há uma formação dos neurônios cerebrais, o que facilita e tem uma apropriação muito maior da pessoa se tornar um dependente na faixa adulta. A Sociedade Brasileira de Psiquiatria e a Academia de Saúde Mental diz que as pessoas que entram precocemente no mundo das drogas, seja lícita ou ilícita, têm uma dificuldade muito maior, posteriormente, de se sair, por exemplo. De enfrentar depois o problema da dependência e conseguir parar”, disse Marcelo Costa.
Ainda segundo o Terapeuta, é importante observar os sinais de alerta que indicam a possível evolução para um quadro de dependência química. Ele destaca que, inicialmente, pode-se notar uma mudança nos interesses e nas atividades que o adolescente costumava desfrutar. Por exemplo, ele pode começar a abandonar hobbies ou esportes que antes lhe traziam prazer, em favor do consumo da substância.
Marcelo Costa ressalta ainda que “Ambientes onde não vai ter essa substância, ele começa a evitar, começa a não ir mais e a inventar desculpas. Geralmente essa pessoa se torna agressiva, irritada, principalmente quando ela fez o uso no dia anterior e está sem uso no dia posterior. Após 6 horas à 8 horas de abstinência começa a vir a irritabilidade”, diz.
Medidas como incentivo à educação, prática esportiva, cultura, lazer e socialização do conhecimento sobre drogas são essenciais para reduzir os fatores de risco e promover fatores de proteção. Além disso, ações que abordem questões como autoestima, relações familiares saudáveis e desenvolvimento de habilidades interpessoais são cruciais para prevenir o uso abusivo de substâncias.
Para o psicólogo Bruno Sá, o apoio familiar é fundamental no processo de prevenção e tratamento. Conversas abertas e honestas sobre os impactos negativos do uso de drogas e do alcoolismo na vida do indivíduo são essenciais para criar um ambiente de acolhimento e compreensão.
“É importante algumas medidas também de orientação. Buscar inserir esse indivíduo em grupos de apoio onde vai-se ter um suporte maior de pessoas que estão vivenciando as mesmas situações que podem viabilizar um reconhecimento, um autorreconhecimento desse indivíduo sobre os prejuízos da atual condição. Então, é muito importante esse apoio, esse acolhimento, estimular a pessoa e encorajá-la também a conseguir passar por cima desse vício e buscar ajuda”, disse o psicólogo.
Impactos da Pandemia
A pandemia da COVID-19 exacerbou os problemas relacionados ao consumo de substâncias, com um aumento significativo na busca por tratamento para o alcoolismo, especialmente entre as mulheres. O desemprego, os transtornos mentais como depressão e ansiedade, juntamente com a busca por alívio dos sintomas, contribuíram para esse aumento.
Com relação à pandemia, o terapeuta Marcelo Costa destaca que houve um aumento significativo na busca por tratamento para o alcoolismo, com um aumento de 12,5%. Além disso, ele ressalta que o padrão de busca por tratamento para o crack e a cocaína, que são derivados, manteve-se estável.
Marcelo Costa explica que o aumento no consumo de álcool durante a pandemia pode ser atribuído a três principais fatores. Primeiro, o medo associado à COVID-19 levou as pessoas a experimentarem altos níveis de ansiedade, e muitas recorreram ao álcool como uma forma de aliviar esses sentimentos. Esse comportamento foi observado tanto em relatos diários quanto nos relatórios da Organização Mundial da Saúde.
Além disso, a ociosidade resultante das restrições e do isolamento social levou as pessoas a passarem mais tempo em casa, o que aumentou o acesso e o consumo de álcool. Por fim, a incerteza em relação ao futuro, como a perda de empregos e a sensação de um futuro incerto, também contribuíram para o aumento do consumo de álcool como uma forma de lidar com a depressão e a ansiedade.
“Um dos fatores que alavancou o aumento de consumo foi aquela situação provocada na pandemia que é a questão de não saber se há um futuro na frente, de ficar com os empregos com risco, de ter uma sensação que o mundo vai acabar, sem ter um pensamento, uma perspectiva futura. Essa falta de perspectiva futura também ajudou quem já usava as drogas a exacerbar e quem não entrou começou a experimentar como uma forma de melhorar esse prognóstico, melhorar, aliviar esses sintomas de depressão, esses sintomas de ansiedade, que aumentou muito também durante esse período”, disse.
Soluções para o problema
O uso de drogas como maconha, cocaína, crack e anfetaminas traz consigo uma série de consequências adversas para a saúde física e mental dos usuários. No entanto, existem medidas de prevenção e tratamento disponíveis, incluindo intervenções farmacológicas, tratamento multidisciplinar em unidades de saúde e programas de prevenção que visam educar e conscientizar a população sobre os riscos associados ao uso de drogas.
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Para lidar com esses problemas, é fundamental buscar ajuda especializada. O tratamento pode incluir terapia cognitivo-comportamental, medicamentos para reduzir os sintomas de abstinência e controlar as doenças causadas pelo uso excessivo de substâncias, e, em casos graves, internação hospitalar.
“Vale ressaltar que é primordial a atenção, o cuidado às pessoas dependentes de álcool e drogas e, através do incentivo e apoio familiar, o encaminhamento dessas pessoas para o devido tratamento e terem acesso aos dispositivos de saúde especializados para dependentes químicos, como grupos de apoio, como alcoólicos anônimos, também como a psicoterapia especializada, como acompanhamento médico e dentre outros. Mas sim, toda essa mudança, essa melhora e essa reabilitação acerca do vício só se conclui a partir da própria motivação e resistência do próprio indivíduo”, destaca Bruno Sá.