Concurso para arquitetos negros é lançado para projeto de Centro Cultural Rio-África

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O Instituto dos Arquitetos do Brasil, departamento do Rio de Janeiro (IAB-RJ), em parceria com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Companhia Carioca de Parcerias e Investimento (CCPAR), lança o concurso para a construção do novo Centro Cultural Rio-África. O local será construído na região da Pequena África e do Cais do Valongo, Zona Portuária do Rio de Janeiro.

O concurso está aberto para arquitetos negros brasileiros e africanos de língua oficial portuguesa com assento no Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP) e selecionará o projeto com melhor solução técnica para a implementação do Centro Cultural Rio-África. O local pretende contribuir para o conhecimento da população carioca e dos visitantes do Porto Maravilha e da Pequena África sobre a história desse território.

O concurso entra na fase de julgamento dos projetos e resultados a partir do final de agosto /Foto: Pexels

“O Cais do Valongo é um espaço de história e resistência do povo negro carioca e nada mais justo que realizar esse concurso voltado para os arquitetos negros e negras. Direcionar dessa forma é oportunizar a esses profissionais a realização de um projeto que reflete, de certa forma, o passado de cada uma dessas pessoas”, pontua Marllon Sevilhas, coordenador do concurso. 

“Nós sabemos a importância histórica que a Pequena África tem para o povo da diáspora africana no Rio de Janeiro e no Brasil e ter o projeto de um profissional negro ou negra é reforçar nosso compromisso com a inclusão de pessoas negras nos espaços de tomadas de decições, até porque, historicamente, a arquitetura é embranquecida. Precisamos ocupar espaços que também são nossos por direito”, completa Marllon.

Ao todo, serão distribuídos R$105 mil aos três primeiros colocados e o grande vencedor será contratado para o desenvolvimento do projeto de mais de R$3 milhões. O objetivo é ter, no Centro Cultural Rio-África, ações que produzam e provoquem interpretações sobre a ancestralidade afro-diaspórica, a cultura, o passado e o futuro da região portuária. Serão realizadas exposições, mostras e programas educativos para o público compreender a região de maneira sensível e crítica.

O novo espaço também vai registrar a evolução urbana do território onde há o maior conjunto de remanescentes da presença africana na cidade, com destaque para o Cais do Valongo. O certame será dividido em quatro fases, iniciando em junho, com a pré-produção. 

Entre os meses de julho e agosto, serão abertas as inscrições, a homologação dos candidatos e as bancas de heteroidentificação dos candidatos. Já no final de agosto e no mês de setembro, o concurso entra na fase de julgamento dos projetos e resultados. A premiação, última fase do certame, fica para o mês de outubro deste ano, com re-impressão do trabalho e montagem da exposição com todos os projetos apresentados. 

O julgamento das propostas acontecerá em fase única. Entre os meses de julho e setembro estarão abertas as inscrições para os participantes. Em setembro ocorrerá às bancas de heteroidentificação e a homologação das inscrições. O envio das propostas deverá ocorrer entre 29 de julho e 16 de setembro. O julgamento deverá ocorrer entre o final de setembro e início de setembro, com homologação do resultado final em 17 de outubro e cerimônia de premiação após a data.

O ganhador do concurso internacional deve construir uma proposta arquitetônica para jogar luz sobre as diversas transformações e renovações ocorridas na região hoje designada como Pequena África e, também, sobre o Porto Maravilha, para promover uma análise histórica e reflexiva dos impactos culturais decorrentes das sucessivas atividades desenvolvidas naquela região, com foco nas populações e territórios afrodescendentes.

Para a produção do projeto os participantes deverão levar em consideração algumas linhas de pesquisa de conteúdo e formação de acervo no circuito expositivo a ser proposto para o Espaço Rio-África como Memória, História e Cultura daqueles que por ali passaram e ali viveram; Arte afro-brasileira; Presença cultural afro-brasileira nas manifestações culturais; Território, destacando as diversas transformações espaciais da zona portuária.

Alguns eixos temáticos estarão presentes como o Porto, o Mar e a Cidade – as complexas relações da cidade com o mar pelo prisma da região portuária; suas conexões com o mundo transatlântico; importância simbólica e cultural do litoral e da relação com o mar na construção das identidades cariocas e brasileiras.

Gente, Cultura e Trabalho – a multiplicidade e a circulação de culturas na região, a classe trabalhadora da zona portuária, os construtores da cidade e sua importância na formação das identidades cariocas e brasileiras; a centralidade da Pequena África e foco em personagens que permitam compreender o território e a valorização da cultura afro-brasileira.

Arte Negra Contemporânea – a partir de coleções de obras de arte de artistas negros já organizadas como a do Museu de Arte do Rio e de futuras aquisições e empréstimos, um espaço expositivo será dedicado à valorização desses artistas e à promoção de jovens talentos.

HISTÓRIA DO CAIS DO VALONGO

O Cais do Valongo passou a ser ponto de desembarque de pessoas escravizadas, trazidas do continente Africano, onde durante os anos de 1774 a 1831, funcionou o mercado de escravos do Rio de Janeiro, tendo depósitos, armazéns e o cemitério dos Pretos novos, sendo considerado o maior mercado escravista da América.

A partir de 1831, o comércio de pessoas passou a ser enfraquecido devido à proibição formal do tráfico atlântico no Brasil, dando lugar ao Cais da Imperatriz, no qual recebia integrantes da corte europeia. a região da pequena áfrica passou por um processo de ocultamento de vestígios da ação então proibida, sofrendo diversas obras, tornando-se mais tarde parte do porto da cidade. 

Mesmo com a tentativa de ocultação da rotina criminosa que acontecia na região, promovida por membros de classes sociais elevadas, o sítio arqueológico do cais do valongo carrega diversas evidências da história da região. 

O território usado anteriormente como ponto de chegada no Brasil para escravos, passou a ter grande concentração de pessoas pretas, as quais tornaram localidade no berço cultural de pessoas pretas e pardas, carregando  história e costumes, sendo atualmente listado pela ONU como patrimônio mundial. 

PROGRAMAÇÃO

Inscrições: de 5 de julho a 30 de agosto

Envio das propostas: até dia 30 de setembro

Julgamento dos projetos: de 7 a 29 de outubro

Resultado e Premiação: 29 de outubro

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