Como funciona a taxa de câmbio: entenda porque o dólar aumenta e diminui

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Todo dia você escuta falar que o dólar subiu ou desceu, que a bolsa desvalorizou. Mas qual o impacto dessas mudanças na sua vida? Na proposta de um jornalismo contra hegemônico e popular, o Notícia Preta tem a intenção de responder estas perguntas através de uma entrevista com Wallace Borges, mestrando em Economia Política pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e economista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Fazendo o caminho do mais simples para o mais complexo e desmentindo certos mitos econômicos. Continuando a série sobre PIB, emissão de moeda e inflação, Novo Teto de Gastos.

Notícia Preta – Como funciona a taxa de cambio?

Wallace Borges – A taxa de câmbio representa a quantidade de moeda nacional que é necessária para comprar uma unidade de moeda estrangeira, por exemplo, para comprar U$1 é preciso ter R$5, nesse caso hipotético a cada R$10 é possível comprar U$2 americanos.

NP – O dólar mais alto ajuda a industrial nacional e prejudica os mais pobres?

WB – O dólar mais alto prejudica os mais pobres pelo fato de que uma série de bens e serviços são consumidos no Brasil, porém tem seus preços bastante impactados pelo dólar. No caso da indústria a questão é mais complexa pois o dólar alto é bom para as firmas brasileiras que conseguem exportar, mas é ruim para as empresas que precisam importar insumos, máquinas ou equipamentos importados. O complexo disso tudo é que dependendo do valor do dólar as firmas podem ou redirecionar a venda para o mercado interno, ou aguardar para realizar vendas no momento em que a direção da empresa considere mais interessante exportar.

NP – O Banco Central (BC) estabelece essa taxa de câmbio artificialmente ou ela depende de alguma quantidade de valor em reserva ?

WB – O BC determina a taxa de câmbio de acordo com o que indica alguns sistemas de modelagem que são próprios do banco, não é algo aleatório, todos as alterações são estimadas, calculadas. Entretanto a decisão final cabe aos diretores de cada área. O modelo ajuda a desenvolver as estimativas e os diretores seguem as métricas calculadas ou não, a decisão final é dos diretores. Nesse modelo, estimativas de inflação, reservas cambiais disponíveis, expectativas dos agentes de mercado, tudo isso é levado em consideração para a definição da taxa de câmbio.

Dólar
Continuando a série sobre PIB, emissão de moeda e inflação, Novo Teto de Gastos – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.

NP – Por que no inicio do plano real o dólar era 1 para 1 (quando R$1 equivalia a U$1) e hoje em dia está acima de R$5,00?

WB – O dólar 1 pra 1 foi uma escolha de política monetária, uma opção diante da conjuntura da época, foi uma escolha, uma opção de se fazer política monetária.

NP – As falas de um presidente tem a capacidade de elevar a taxa de cambio?

WB- Sim, muito, os agentes econômicos analisam cada movimento do governo, desde entrevistas do presidente da República, da câmara, do Senado, ministros etc. Tudo que as autoridades públicas dizem pode fazer com que um agente de mercado revise suas expectativas, o que reflete em movimentos de compra e venda mais ou menos acelerados o que toca também na taxa de câmbio.

NP – Qual movimento os atores do mercado fazem para o dólar subir após uma política que estes atores de mercado não gostem?

WB – No mercado financeiro há o comportamento de manada e existe também uma outra prática bem comum que pode ser resumida na seguinte frase: “É melhor perder com todo mundo do que perder sozinho”. Essa frase é um exemplo de que alguns agentes ao observarem determinado movimento de mercado, preferem endossar mesmo sob o risco de perda, pois consideram ser preferível perder com todos à manter posição e mais a frente ter perdas de mercado individualmente.

NP – O que muda de fato com a autonomia do banco central em relação a taxa de cambio?

WB – Nada. O Banco Central segue tendo a mesma função que é garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro sólido e fomentar o bem estar econômico. Nada disso mudou, o que mudou foi ter mais ou menos autonomia pra fazer isso e principalmente quais os meios para obter estabilidade e quais custos sociais são aceitáveis para a sociedade pagar ou não. o Banco Central de hoje possui autonomia para tomar decisões que é diferente de independência total, ainda há um controle do Presidente da República.

Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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