Um episódio de feminicídio ocorrido em Natal (RN), no último fim de semana, chamou a atenção para uma tendência preocupante revelada por dados nacionais. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), enquanto houve uma queda nos índices gerais de violência no país em 2024, os crimes cometidos contra mulheres continuaram crescendo.
O número de mortes violentas intencionais caiu 5,4% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, os feminicídios chegaram a 1.492 registros, o maior número desde 2015, quando esse tipo de homicídio passou a ser classificado como crime específico no Brasil.
Outro dado alarmante refere-se aos casos de estupro e estupro de vulnerável, que somaram 87.545 vítimas em 2024, o maior patamar desde o início da série histórica em 2011. Isso representa um crescimento de 100% no período. A maioria das vítimas, três em cada quatro, tinha até 14 anos.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Luciana Araújo, integrante da Marcha das Mulheres Negras, destacou que mais de 60% das vítimas de feminicídio no país são mulheres negras ou pardas, o que, segundo ela, escancara o impacto do racismo estrutural e da desigualdade social nesse tipo de violência. Ela defendeu o fortalecimento de políticas públicas para garantir proteção às mulheres independentemente de raça ou classe social, além da aplicação efetiva das leis Maria da Penha, do Feminicídio e da 11.639/2003 nas escolas. “Sem mudar a mentalidade vamos enxugar gelo a vida toda”, afirmou.
O caso ocorrido em Natal no sábado (26) envolve Juliana Garcia, agredida brutalmente dentro de um elevador por seu namorado, Igor Cabral, no bairro de Ponta Negra, uma área nobre da capital potiguar. Segundo relatos, ele desferiu mais de 60 socos em seu rosto. Moradores do condomínio prestaram socorro à vítima, que estava com o rosto completamente desfigurado. O segurança acionou a polícia, e o agressor foi detido em flagrante.
Juliana sofreu diversas fraturas faciais, incluindo a mandíbula, e precisou ser submetida a cirurgia. Devido à gravidade das lesões, não conseguiu falar e prestou depoimento por escrito à polícia. Em sua versão, Igor alegou ter sofrido um surto de claustrofobia. No entanto, conforme o consenso médico, esse transtorno de ansiedade não provoca comportamentos violentos.
Em depoimento, Juliana afirmou que já havia sido vítima de violência psicológica e física anteriormente, relatando inclusive que o agressor já a empurrou e que, no momento do ataque, ele afirmou que ela “iria morrer”.
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