“Nós acreditamos que a arte salva vidas”, afirmam bailarinas americanas que promovem projeto social no Brasil

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As irmãs norte-americanas Chloe e Maud Arnold, são sapateadoras de destaque mundial que para além dos palcos, também levam a dança para crianças e jovens em todo o mundo. No Brasil, o projeto social das irmãs, o “Tap into life”, está em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, promovendo a dança, em especial o sapateado, para a região.

Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, Chloe e Maud, que estiveram no Brasil no início desse ano e que ao longo da carreira já trabalharam com grandes nomes internacionais como Beyoncé, falaram do impacto do projeto, nas crianças beneficiadas. “Nós acreditamos que a arte salva vidas, que salvou
as nossas vidas. Acho que traz pra elas autoestima, confiança, comunidade, espaço seguro fora de casa, mesmo que eles não tenham esse lugar em casa, elas sabem que a escola de dança é um lugar seguro
“, disse Maud.

Chloe (esquerda) e Maud (direita) Arnold possuem um projeto chamado “Tap into life”, que no Brasil funciona na Zona Norte do Rio de Janeiro /Foto: Lee Gumbs

Chloe conta que começou a dançar aos 6 anos, em Washington (DC), mas que antes disso, a relação das duas com a dança já havia começado. “Nossa mãe dançava então ela nos colocou, mas
ela se deu conta de que a gente tinha uma paixão por percussão e sapateado. Então quando eu tinha 9 anos e eu vi o filme TAP e foi muito inspirador quando eu vi Gregory Hines. Vimos ele na tela e um ano depois viu ele pessoalmente em DC
“, conta.

De acordo com a bailarina, encontrar o seu ídolo, vê-lo dançar de perto, a inspirou. “O jeito que ele se comunicava através do sapateado era algo que eu queria fazer pra minha vida. Então minha mãe começou a procurar todas as oportunidades gratuitas para aprender e praticar sapateado porque não tínhamos muito dinheiro quando éramos criança“.

Ao longo da carreira, um dos artistas com quem as irmãs trabalharam, foi nada mais nada menos que a cantora Beyoncé. Segundo Chloe, a experiência foi incrível. “Ela é como uma alma gêmea para a gente, no sentido de que ela carrega os mesmos valores, a mesma paixão e amor por ajudar os outros, de trabalhar duro, de seguir seus sonhos e abrir as portas para outros para fazerem o mesmo. Então quando passamos um tempo com ela foi muito empoderador, e nos fez saber e acreditar mais ainda em nós mesmas como mulheres pretas“.

Depois de tantos mentores e aprendizados, as irmãs decidiram compartilhar seus conhecimentos, com os outros. Em 2009 as bailarinas realizaram o primeiro DC TAP FESTIVAL, mas o trabalho social com a dança começou oficialmente em 2013, e atualmente elas são responsáveis pela Chloé and Maud Foundation. Como duas mulheres negras, levando autoestima e capacitação para crianças, em sua maioria negras também, Maud explica um dos valores que os trabalhos sociais, promovem.

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É difícil ser algo que você não vê. Para muitos desses jovens pretos, eles não veem pessoas pretas bem sucedidas próximas a eles ou viajando o mundo. Então eles precisam de nós para saberem que é possível pra eles também“, explica a sapateadora. Em seguida, sua irmã completa, afirmando que apesar das dificuldades, as crianças desenvolvem outras aptidões por conta da dança e das oportunidades.

Também temos histórias engraçadas, como a da Manuela, que aprendeu inglês para poder falar conosco. E quando olhamos para alguém como o Giuliano, fruto de 15 anos de investimento, que agora está conquistando uma carreira de sucesso, capaz de devolver para o Brasil de uma maneira que é real e além do que podemos fazer porque ele é daqui. Acho incrível ver o impacto real e imediato e também ver o impacto a longo prazo. E isso nos motiva e nos deixa empolgadas em nosso propósito“, conta Chloe.

Relação com o Brasil

As irmãs, que promovem trabalhos sociais em vários países, já podem ver os resultados do seu trabalho em alunos brasileiros como Manuela e Giuliano. No Brasil, o projeto de Chloe e Maud Arnold, “Tap into life”, funciona em Madureira, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. No início deste ano, as sapateadoras estiveram no Brasil para ver de perto a ação social.  

Mas além de Madureira, ambas pensam em levar a iniciativa para outros lugares. “Nós inspiramos a expandir mais o nosso programa para que mais crianças possam experienciar essa alegria, o senso de comunidade e o senso de realização. E é importante para nós ir até o bairro em que eles moram, para que não pensem que temos medo de onde eles vivem, e que saibam que somos parte da comunidade deles também“, explica Maud, que confirma que pensam em levar o “Tap into life” para o Vidigal (RJ) e Salvador (BA).

Chloe e Maud Arnold com as alunas do projeto “Tap into life” no Rio de Janeiro /Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a Maud, a ponte entre o trabalho delas e o Brasil aconteceu em 2003. “Ganhei uma bolsa no ensino médio para escolher um país no mundo para passar o verão para aprender sobre a cultura e fazer trabalho voluntário. Eu escolhi o Brasil. Podia ter escolhido França, Inglaterra, Quênia, mas alguma coisa sobre o Brasil me tocou“, conta a bailarina, que continua:

Quando vim aqui com 17 anos, eu simplesmente me apaixonei pelo país. As pessoas são tão alegres e carinhosas, tão família e comunidade. Depois quando vim em 2009 pela primeira vez para dar aula, eu apenas senti: Uau, essa é a minha galera!’. Então eu posso dizer que a conexão é bem genuína e real. Talvez por causa das nossas raízes, porque temos ancestralidade preta aqui“, explica.

Assim como a irmã, Chloe comenta o sentimento de acolhimento que tem com o Brasil. “É o primeiro lugar que me senti em casa, sendo uma pessoa preta. Vindo ao Rio onde tem tantas pessoas que se parecem comigo, onde eu senti que compartilham da mesma ancestralidade africana, valorizando o senso de comunidade, cultura, dança como linguagem parte da vida. Esses valores conversaram comigo“.

Para ela, essa aproximação cultural a incentivou a compartilhar com os bailarinos brasileiros, o trabalho que elas já desenvolviam em outros lugares do mundo.

Quando eu conheci os alunos daqui, com quem eu pude ver que tem a mentalidade, a alegria, e todas as coisas que eu amo, me fizeram querer tornar possível compartilhar com eles o sucesso que eu estava tendo. Quando começamos a nossa fundação, nós não tínhamos muito sucesso, tínhamos apenas um
pouco. Mas à medida que fomos crescendo queríamos ter a certeza que outros iriam crescer com a gente
“, explica Chloe.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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