A Marielle doce, a aguerrida, a militante. Sua atuação à frente dos Direitos Humanos, a vida política e a pessoal, seus últimos passos. A trajetória da vereadora Marielle Franco — executada em 14 de março do ano passado — será retratada em dez quadros, na exposição “Tempos de Marielle”, que inaugura dia 12 de março no Museu da Maré.
O convite para pintar os quadros foi feito ao artista plástico Marcondes Rocco no final de janeiro. Não seria a primeira vez que ele faria um quadro de Marielle. O primeiro foi pintado logo após a sua morte, durante um ato na comunidade.
“Fiz uma pintura ao vivo dentro da favela e presenteei o Museu da Maré com o quadro dela. Na época, já havia a intenção da direção do museu de realizar essa exposição. Até que recebi o convite este ano. Pintar Marielle faz eu me sentir privilegiado, orgulhoso e vitorioso”, comemora Rocco.
Morador do Morro do Conceito, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Rocco, de 43 anos, que é professor de Educação Física e mestre de capoeira, começou a pintar em 2015. No início, usava só os dedos para fazer rostos de pessoas. No ano seguinte, ganhou uma bolsa de estudos para o Atelier José Luiz Carlomagno, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Ali, aprendeu a usar os pincéis, entre outras técnicas. Em seguida, estudou no Museu de Arte Moderna de São Paulo e foi convidado para participar da Academia Brasileira de Belas Artes. Ano passado, começou o curso de Pintura Contemporânea da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Jardim Botânico.
Em contato com familiares de Marielle, ele tem recebido dezenas de fotos. Sua tarefa é retratar dez momentos da vida da parlamentar que resumam sua breve e marcante história, estabelecendo uma linha do tempo.
A exposição será inaugurada durante um evento que marca um ano da morte da vereadora. Haverá ainda um debate, mediado por Anielle Franco, irmã da vereadora, e a apresentação do grupo de dança Pele.
Um dos diretores do Museu da Maré, Lourenço Cezar, conta que gostou muito do primeiro quadro de Marielle pintado por Rocco, em março do ano passado: “Comparei muito a obra dele com as fotos do Sebastião Salgado, porque ele trabalhou muito bem a questão do olhar. Parece que ela está olhando em qualquer espaço que a gente se encontre, e está sorrindo”.
Lourenço conhecia Marielle há aproximadamente 20 anos. Eles estudaram no pré-vestibular comunitário na Maré e ingressaram juntos como bolsistas na PUC-Rio. Ela no curso de Ciências Sociais e ele no de Geografia. O pintor conta que pensou em convidar outros artistas para a exposição, mas não haveria tempo hábil nem recurso. Lourenço destaca que Rocco não cobrou pela produção das obras. O artista plástico ressalta que a emoção de poder retratar Marielle não tem preço: “Estou perdendo noites de sono, mas tudo é válido. O objetivo principal com a minha pintura é de me tornar representatividade na Baixada Fluminense e no Rio. Através da pintura, eu tenho acesso ao microfone para falar dos problemas sociais que acontecem na minha região”.
A inauguração da exposição “Tempos de Marielle” será às 18h, no Museu da Maré, que fica na Av. Guilherme Maxwel, 26.