Atrizes indígenas protagonizam episódio de “Falas da Terra”, na TV Globo

Na semana de comemoração do Dia dos Povos Indígenas, três jovens atrizes indígenas vão protagonizar o episódio “Pintadas”, do projeto “Falas da Terra”, que será apresentado nesta segunda-feira (17), na TV Globo, após o BBB23. Com origens diferentes, Ellie Makuxi, Dandara Queiroz e Isabela Santana darão vida a Luara, Josy e Michele, respectivamente, no segundo episódio de “Histórias Impossíveis”.

Após um processo de seleção e preparação, as três atrizes embarcaram em um processo de conexão com suas personagens que ao longo da trama, vão mergulhar na ancestralidade de seus povos, sendo esse um dos diferenciais desse episódio, que coloca a comunidade indígena como protagonista, tratando de assuntos atuais sob o olhar dos povos originários.

Para a atriz Ellie Makuxi, que é de Roraima e passou parte da infância em uma comunidade indígena da etnia Makuxi, essa é uma grande oportunidade de ser uma referência para o seu povo.

“Os povos indígenas existem e a gente tem voz. Eu espero que o nosso episódio traga essa amplitude. A gente existe e resiste. E eu me sinto muito feliz por poder ser referência para outras meninas e representar o meu povo, que os meus traços também estejam presentes na televisão e várias garotinhas possam me assistir”, comemora Ellie.

Já Isabela Santana, que estuda Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia, considera essa uma chance de mostrar as pluralidades da população indígena.

“A gente tem mais de 300 povos no Brasil, mais de 250 línguas, e cada indivíduo dentro do povo possui uma história e uma personalidade diferente. Tudo isso compõe essa etnogênese da identidade. É uma oportunidade de mostrar que somos humanos: temos sonhos, amamos, choramos, dançamos, criamos, rimos. Avalio esse momento como uma oportunidade de transformar as nossas narrativas e de causar transformação”, explica a atriz, que é de origem Pataxó, do Sul da Bahia. 

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Para Dandara Queiroz, natural do Mato Grosso do Sul, mas morando atualmente em São Paulo, o momento atual é ideal para trazer à tona os assuntos que o episódio aborda. “Acho muito importante levar essa pauta. Além da curiosidade que vai te prender para ver, são novas perspectivas e linguagens que têm a ver com a inovação. Me senti como quando a gente senta em volta da fogueira e escuta o cacique contar as histórias, os contos…”, conta.

A trama protagonizada pelas atrizes indígenas foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, com direção artística de Luísa Lima. A história que se passa no Mato Grosso do Sul, relata o retorno de Luara à sua terra natal, junto de sua amiga de faculdade, Michele, para apoiar a prima rapper, Josy, com a gravação de um clipe. Mas durante a produção em uma floresta, se deparam com a natureza destruída e com desafios que terão desdobramentos ao longo do episódio.

Por trás das câmeras

Além das atrizes indígenas, o episódio ficcional de suspense, parte da antologia ‘Histórias Impossíveis’ do projeto ‘Falas’ da TV Globo, foram convidadas diretoras, roteiristas e consultoras sensíveis aos temas tratados. Foram convidadas as diretoras Thereza de Medicis e Graciela Guarani, que estreiam assinando a direção de um projeto na TV.

Já o roteiro teve participação das roteiristas Thais Fujinaga, Hela Santana e Renata Tupinambá, além da consultora Graciela Guarani, para que os elementos e linguagem da cultura indígena (em especial a do povo Guarani-Kaiowá, que dá base para a história), estivessem devidamente representados.

Além da temática do desmatamento e preservação da natureza que atingem diretamente a população indígena, ‘Pintadas’ também aborda a questão da violência contra a mulher da perspectiva da mulher indígena, que de acordo com Graciela Guarani, é muito importante de ser abordado.

“Este episódio traz um ponto, ainda que sutil em sua abordagem, mas muito pertinente em se discutir. Falar de violências contra a mulher já é algo que a sociedade vem discutindo exaustivamente e com razão, porém, esta discussão foge ou se cala quando os corpos que sofrem estas violências não são corpos brancos. O corpo da mulher indígena vem sendo violado historicamente, por uma herança colonial”, reflete Graciela.