No Brasil, 4 em 10 mulheres não percebem agressões vividas como violência, revela pesquisa

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violência contra mulher - Freepik

A pesquisa também revela que 73% das entrevistadas que já sofreram violência doméstica pediram algum tipo de ajuda.

No Brasil, a cultura de associar violência contra a mulher apenas à agressão física faz com que muitas não reconheçam situações de abuso como violência, é o que aponta o novo Índice de Conscientização sobre Violência contra as Mulheres, realizado pelo Instituto Natura e Avon.

Segundo a pesquisa, 4 em cada 10 mulheres não identificam agressões vividas como violência contra mulher, segundo a antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres no Instituto Natura, Beatriz Accioly, a dificuldade em reconhecer a agressão é um dos pontos mais sensíveis da pesquisa: “A gente ainda tem no Brasil uma compreensão de violência muito atrelada à física, ao olho roxo”, diz a especialista.

No Brasil, a cultura de associar violência contra a mulher apenas à agressão física faz com que muitas não reconheçam situações de abuso
Foto: Freepik

Apesar de 98% das brasileiras entrevistadas afirmarem que tomariam atitude, como por exemplo chamar a polícia se vivesse algum tipo de violência contra mulher, 73% revelaram que já sofreram algum tipo de agressão e de fato buscaram ajuda, e a maioria deste número buscou ajuda na esfera privada, se, acionar a polícia ou formalizar uma denúncia contra o agressor.

A crença do “em briga de marido e mulher não se mete a colher”

O ditado popular enraizado na população brasileira “em briga de marido e mulher não se mete a colher” ainda faz com que muitas pessoas acreditem que não se deve interromper ou apoiar uma mulher que está sendo vítima de violência, a pesquisa aponta que 60% dos homens e mulheres entrevistados afirmaram que as questões do casal devem ser resolvidas pelo próprio casal e 15% afirmaram que não ajudariam uma mulher por achar que “não é da sua conta”, o que contradiz o dado de que 90% dos entrevistados afirmarem que têm alguma responsabilidade.

 “Ainda percebemos muito uma naturalização da violência e, mais do que isso, um processo social de legitimação. Isso mostra a resistência à ideia de que a violência contra a mulher é um crime que deve ser tratado pelo Estado, com gravidade.” afirma Beatriz Accioly.

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A falta de conscientização sobre o tema também é percebida na pesquisa, segundo os dados 62% dos entrevistados afirmam que se lembram de terem sido impactados por campanhas de conscientização, 42% afirmam que campanhas ajudam o esclarecimento do que é violência de gênero e apenas 37% descobriram como e onde se pode denunciar.

A pesquisa entrevistou 4.224 pessoas, entre elas homens e mulheres, acima de 18 anos. As entrevistas ocorreram de forma presencial entre junho e agosto de 2025 e e levaram em conta os recortes de região e gênero recomendados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) além de estratos de classe social, de acordo com renda familiar e escolaridade do entrevistado. A plataforma vai medir periodicamente a conscientização da população em relação ao tema.

Layla Silva

Layla Silva

Layla Silva é jornalista e mineira que vive no Rio de Janeiro. Experiência como podcaster, produtora de conteúdo e redação. Acredita no papel fundamental da mídia na desconstrução de estereótipos estruturais.

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