Se as taxas de 50%, sobre os cafés brasileiros, implementadas desde o último dia 6, continuarem a ser aplicadas, pode haver uma escassez de café nos Estados Unidos (EUA), o país que mais consome essa bebida no mundo. Essa advertência foi feita por William Murray, CEO da Associação Nacional do Café dos EUA, em uma carta, enviada hoje ao Embaixador, Jamieson Greer, representante comercial da Casa Branca.
O café é uma bebida que 2 terços dos adultos, nos EUA, consomem, gerando um mercado de quase US$ 350 bilhões anualmente. Exceto pelas produções no Havaí, e em Porto Rico, as condições para cultivar café nos EUA não são ideais, resultando na importação de mais de 99% dos grãos consumidos. Do total de café verde que é utilizado nos EUA, entre 30% e 40%, provém do Brasil, sendo ele, o maior produtor global deste produto.

A Associação Nacional do Café dos EUA alerta que, na ausência dessa fonte, o país poderá enfrentar uma crise de abastecimento de café, impactando negativamente nos negócios. Essa associação abrange todas as etapas do processamento do café nos Estados Unidos, sendo ela a mais antiga, e representativa, neste setor.
“O café não é um produto de comércio injusto ou não recíproco, mas sim um produto essencial (com produção nacional mínima) que impulsiona a economia dos EUA, sustenta quase 2,2 milhões de empregos nos EUA e oferece benefícios comprovados à saúde, ao mesmo tempo, em que impulsiona a vida diária dos consumidores americanos”, afirmou Murray, na carta.
O pedido foi inserido na parte digital da investigação, sobre alegações de práticas comerciais desleais, por parte do Brasil. O processo foi iniciado pelo Office of the United States Trade Representative (USTR), em 17 de julho. Essa investigação foi autorizada pela seção 301, da Lei do Comércio, de 1974. A Leia abrange diversos setores da economia brasileira, incluindo etanol, comércio na Rua 25 de Março, grandes empresas de tecnologia, o sistema de pagamentos via pix e questões de desmatamento ilegal.
Ela pode resultar na imposição de novas tarifas, ou sanções, contra o Brasil. Todavia, essa investigação é diferente das tarifas de 50%, que já estão em vigor, as quais foram estabelecidas por uma ordem executiva, do presidente Donald Trump, com fundamento na legislação de emergência econômica americana. A Casa Branca havia decidido excluir quase 700 produtos brasileiros das tarifas adicionais, como suco de laranja e aeronaves. Contudo, o café não foi isentado dessa taxação.
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Embora haja a possibilidade de mudanças na lista de exceções, até agora o café brasileiro não foi incluído, porque as autoridades americanas acreditam que existem opções suficientes no mercado internacional. Atualmente, não existem negociações comerciais ativas entre os dois países, visto que o Governo Trump condicionou a retomada do diálogo, à suspensão do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político.
“Qualquer interrupção nas importações coloca em risco o processamento, a produção e a manufatura de alto valor dos EUA, e pode desviar esse enorme valor para outros países, como a China, que estão ansiosos para desenvolver suas próprias indústrias”, afirma Murray.
O Governo do Brasil considera essa condição como uma interferência inadequada, e um ataque à sua soberania. As autoridades brasileiras já estão agindo para aumentar as vendas de café para a China. Recentemente, mais de 180 exportadores do Brasil foram autorizados por Pequim, uma informação que Murray destaca, para os EUA.
Ainda segundo Murray, além do problema direto de abastecimento, as tarifas representam uma ameaça à indústria norte-americana como um todo, devido ao fenômeno conhecido como inversão de tarifa, “em que a alíquota sobre a matéria-prima é maior do que a alíquota sobre os produtos acabados feitos a partir desse material.”
“Torrefadores de café em terceiros mercados poderiam prejudicar os torrefadores americanos ao utilizar grãos de café verde de menor custo do Brasil e, em seguida, exportar blends de café torrados para os EUA a preços significativamente mais baixos do que os torrefadores americanos conseguiriam competir”, finaliza Murray.
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