Um homem em situação de rua, identificado como Carlos Eduardo, morreu em uma padaria próxima à praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na Zona Sul, do Rio, e teve o corpo coberto com um saco plástico preto por cerca de duas horas. O expediente continuou normalmente até que a Defesa Civil chegou para removê-lo. O caso aconteceu na última sexta-feira (27).
Segundo o relato de um cliente publicado no jornal O Globo, Carlos tentava pedir ajuda e entrou na Confeitaria e Lanchonete Ipanema, na esquina das ruas Joana Angélica e Visconde de Pirajá, Zona Sul do Rio, na esperança de que alguém o ouvisse e ligasse para o Samu. Em situação de rua há pelo menos quatro anos, Carlos Eduardo tinha tuberculose em estágio avançado.
Ainda de acordo com o cliente, os donos da padaria colocaram cadeiras ao redor do corpo para que os clientes não tropeçassem e o cobriram com um saco de lixo — curto demais, que deixava um dos pés do homem à mostra.
Um freguês chegou a pedir que o responsável pela padaria fechasse a loja, por preocupação sanitária e humanitária. E ouviu a resposta: “Ninguém teve humanidade quando ele estava jogado na rua. Agora que morreu jogado na minha padaria querem que eu tenha humanidade“.
“Eu cheguei aqui exatamente na hora em que ele caiu, morto, dentro da padaria. Ele estava com a camisa ensaguentada, de tanto tossir e cuspir sangue. Mas, como sempre acontece, as pessoas não ouvem os moradores de rua e só oferecem a eles o desprezo. Ele não conseguiu ajuda, isso tudo é muito triste”, lamentou o jornaleiro Tarcísio Filho, de 22 anos, dono de uma banca na Praça Nossa Senhora da Paz, em entrevista ao jornal O Globo.
Nas ruas, os únicos companheiros fiéis de Carlos Eduardo eram dois vira-latas. Mas como a sua doença já estava avançada, os dois acabaram sendo adotados por uma moradora do bairro dias antes da morte. Foi o próprio Carlos Eduardo quem pediu para que ela levasse os animais no dia em que ele foi internado pela última vez.