A polêmica fala “eu sou homem” dita pelo participante do “BBB 24”, Davi, é muito utilizada em algumas regiões para dizer que uma determinada pessoa tem responsabilidade, que não é um ‘moleque’. Neste sentido a palavra ‘homem’ se contrapõe a ‘menino’. É o que explica os comunicadores e jornalistas baianos, Midiã Noelle, Val Benvindo e Romário Almeida, em entrevista para o Notícia Preta.
Na madrugada desta terça-feira (23), após uma dinâmica do programa, o participante Davi usou pela segunda vez a expressão “eu sou homem” dentro do confinamento, o que chamou a atenção dos outros brothers. O baiano chamou o atleta Vinicius Rodrigues para conversar e usou a expressão questionando a atitude do Brother que, segundo David, não teria sido correto com ele.
O produtor Cultural, Romário Almeida, que assim como David, também é baiano, explica o significado da fala de seu conterrâneo.
“Essa expressão, que também tem a variação “sujeito homem”, está mais relacionada à ideia de responsabilidade, compromisso com a palavra, honestidade. É usada como oposição a não ser “menino” ou “moleque”, que representaria a ideia contrária, de irresponsabilidade”, afirmou.
Para a jornalista Val Benvindo, o participante usou a palavra para afirmar o seu caráter, posicionamento e que não era nenhum menino.
“Ele está na verdade se posicionando enquanto ser uma pessoa justa. Quando ele fala eu sou homem, ele quer dizer, não sou menino, porque na Bahia as pessoas falam, tal pessoa é menino. Ah, eu não sou moleque. É para demonstrar que ele é uma pessoa adulta, e isso não quer dizer uma perspectiva de gênero ou que desrespeita qualquer outra pessoa“.
Segundo a jornalista e mestre em Cultura e Sociedade pela Uniersidade Federal da Bahia (UFBA), Midiã Noelle, a perpetuação de estereótipos para os nordestinos ainda é bastante presente em nosso país.
“O Brasil começa no nordeste. A primeira capital do país é Salvador, então a gente precisa entender que é a partir do nordeste sim, que o Brasil se desenvolve e como os territórios sudestinos, sulistas, se colocam numa lógica superior. Isso também que vem de um processo de racialização de perpetuação do racismo, de identificação de onde estão as pessoas com maior poder aquisitivo, pessoas essas brancas”, pontua a jornalista.
Romário Almeida concorda trazendo o exemplo do descaso com o sertão e sobre a perpetuação de estereótipos dos Nordestinos presente na mídia brasileira.
“O sertão acaba sendo um “não lugar” que não se localiza em nenhum estado, então tudo é sertão. Só na Bahia, por exemplo, temos 27 territórios de identidade com inúmeras diferenças culturais. Sendo nordestinos, nós conseguimos reconhecer as diferenças de sotaques, culinária, religiosidade, entre outros aspectos. E quanto mais a gente fala sobre cada Estado com suas peculiaridades, mais esclarece sobre essa pluralidade dentro do Nordeste”, explica o produtorr
Val Benvindo também concorda sobre esse estereótipos sobre os nordestinos. Ela fala sobre a generalização de acharem que são iguais, e finaliza exaltando a grandeza do Nordeste.
“Ainda assim é uma perpetuação de estereótipos nordestinos. As pessoas tendem a colocar a gente no mesmo pacote, né? Todos os nordestinos e aí, de fato, de novo, Nordeste é gigante, com muitos jeitos, muitas formas de se falar, de se portar, de ser e existir no mundo de de, de trazer a cultura”, analisa a jornalista
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