Autora vai autografar para leitores cariocas neste sábado (02) e paulistas no dia 7 de dezembro
A jornalista premiada Luciana Barreto, atualmente âncora da CNN, lança o seu primeiro livro: “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais”, pela Pallas Editora. Já entrando na reta final de um ano em publicou outros 14 títulos (com mais 5 a caminho), entre religiosos, infantis e livros de ficção, alguns premiados, e participou ativamente de festas literárias pelo país, a Pallas convida para duas noites de autógrafos.
Na primeira, que acontece neste sábado (02) às 15h, a autora receberá o público na Livraria e Edições Folha Seca, no Centro do Rio de Janeiro. A segunda noite de autógrafos acontece no dia 7, a partir das 18h30, na Martins Fontes da Consolação, Na Consolação, São Paulo.
O prefácio escrito pela jornalista Flávia Oliveira (TV Globo, CBN e podcast Angu de Grilo) explica bem e contextualiza o lançamento. Leia, na íntegra:
Luciana Barreto é uma mulher negra, cria de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, região ocupada predominantemente por pessoas autodeclaradas pretas ou pardas. Formada pela PUC-Rio, mestre em relações étnico-raciais pelo Cefet/RJ, exerce há mais de duas décadas um jornalismo assentado na ética, na sensibilidade e no compromisso com suas origens. Na carreira, dedica-se intensamente a pautas sobre enfrentamento ao racismo e a luta por liberdade e pelo bem-viver. Pelo ativismo na profissão mereceu todos os prêmios que ganhou.
Não surpreende, portanto, que a jornalista corajosa e consciente tenha levado para a academia inquietações que forjaram sua trajetória profissional. Foi a partir de uma viagem aos EUA pelo programa Visitante Internacional, do Departamento de Estado, que o olhar de Luciana Barreto voltou-se às, ali ainda incipiente, manifestações racistas no mundo digital.
A internet e as redes sociais emergiram sob a utopia de conectar, aproximar e mobilizar gente de cada canto do planeta em torno de uma agenda de liberdade, igualdade, fraternidade. Serviria à democracia, via compartilhamento de informações, convergência de propósitos, atuação em rede.
Lamentavelmente, não foi só isso. À terra fértil misturou-se o lodo. Das plataformas digitais emergiram também os crimes de ódio racial, entre tantas outras manifestações de preconceito, discriminação, aniquilamento de pessoas tomadas como inimigas por fomentadores da perseguição politico-ideológica ladeados por um rebanho igualmente mal-intencionado.
Hoje, o Brasil e o mundo já experimentaram o que a violência digital pode provocar em indivíduos, comunidades, grupos sociais, instituições democráticas. Aqui e lá fora multiplicam-se propostas de parâmetros de conduta, regulação e responsabilização das plataformas digitais pelos danos decorrentes de conteúdos orientados pelo ódio e impulsionados por (muito, muito, muito) dinheiro. Na origem deste debate estavam o faro jornalístico e o interesse acadêmico de Luciana Barreto.
A fagulha original se deu em 2016, último ano do segundo mandato de Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA; no Brasil, época da deposição por impeachment de Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o país. Era véspera, portanto, da ascensão à Casa Branca e ao Palácio do Planalto de dois governantes de extrema-direita, Donald Trump e Jair Bolsonaro, respectivamente. Um par de políticos que fizeram da intolerância plataforma política, da liberdade de expressão ferramenta de ataque.
A dissertação de mestrado, ora tornada livro, tem contribuição pública inequívoca, por documentar a dimensão digital do racismo no Brasil. Luciana Barreto, primeiro, visita a História. Trata da origem do ódio racial, tão antigo quanto o país forjado sob a chibata da escravidão imposta pelos portugueses a negros e indígenas. Elenca a resistência dos movimentos por liberdade e direitos, que desconstruiu o mito da democracia racial e formatou, mesmo à margem dos espaços de poder, arcabouço legal e intervenções por dignidade humana e inclusão. Passa pela redemocratização, nos anos 1980, e pelas experiências recentes de ações afirmativas, até pousar no ambiente inflamado dos dias atuais, de polarização política e supremacismo branco ressuscitado.
A segunda parte da obra se debruça sobre a apropriação da liberdade de expressão pelo discurso de ódio. No novo tempo, reivindica-se sem qualquer pudor o direito de atacar adversários, destruir reputações, incitar violência, conspirar contra a democracia. E desqualificar, ofender, perseguir, agredir negros, mulheres, pessoas LGBTQIAP+, religiosos dos cultos de matriz africana e quem mais chegar. Não importa se o gatilho acionado nas plataformas digitais se materializar no mundo real.
A autora apresenta o alvorecer do racismo virtual a partir da página no Facebook Senti na pele, criada em 2015 por Ernesto Xavier, jornalista e antropólogo. A intenção original – expor e combater o racismo a partir de relatos de experiências cotidianas de preconceito sofrido por negras e negros brasileiros – desembocou numa avalanche de comentários de ódio, fazendo da rede social um “pelourinho moderno”, nas palavras do professor Luiz Valério Trindade, da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Aqui também o leitor vai conhecer a experiência do Teaching Tolerance, programa implementado nos anos 1990 no estado americano do Alabama. A plataforma contém ferramentas para auxiliar professores no enfrentamento ao discurso de ódio nas instituições de ensino. Em mais uma prova da sensibilidade e da competência de Luciana Barreto, esta é outra agenda urgente do Brasil de 2023, que se apavora com a multiplicação de episódios de violência contra escolas, muitos deles planejados via internet.
“Discursos de ódio contra negros” é livro que diagnostica e denuncia, ensina e alerta. Se preocupa, Luciana Barreto também nos esperança, seja pela memória de luta do povo preto no Brasil, seja por apresentar iniciativas de enfrentamento ao racismo digital e aos discursos de ódio. A resistência é permanente. Seguimos.
Por Flávia Oliveira
“Discursos de ódio contra negros nas redes sociais”
Pallas Editora
Luciana Barreto
112 páginas
R$ 45
NOITES DE AUTÓGRAFOS
RIO DE JANEIRO
QUANDO: sábado, 2 de dezembro, a partir das 15h
ONDE: Livraria e Edições Folha Seca – Rua do Ouvidor, 37, no Centro
SÃO PAULO
QUANDO: quinta, 7 de dezembro, a partir das 18h30
ONDE: Livraria Martins Fontes – Rua Dr. Vila Nova, 309, na Consolação
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