Familiares de vítimas de violência policial do Rio de Janeiro se reuniram nesta quinta-feira (17) em um protesto contra as ações da polícia no Estado e contra o governador Cláudio Castro. Em frente ao Palácio da Guanabara, sede oficial do governo do Rio, localizado na Zona Sul da capital, a família de Thiago Menezes Flausino, assassinado aos 13 anos na Cidade de Deus (RJ), no início deste mês.
Em entrevista ao Notícia Preta, que estava na manifestação, os pais do adolescente, Diogo Flausino e Priscila Menezes, cobraram justiça e disseram estar “esperando respostas” do Estado. Já Renata Nunes, amiga da família de Thiaguinho – como era chamado pelos amigos-, falou sobre o desejo de todos: justiça.
“Nós queremos que o estado se responsabilize, porque o Thiago era um garoto de 13 anos, e teve os sonhos ceifados. Sonho de ser jogador de futebol, de seguir carreira na igreja. Ele tinha se convertido três meses antes, ele não era bandido! Não foi efetuada uma operação policial, ele foi executado! O que a gente quer, no mínimo, é justiça. Não queremos vingança!“, disse a amiga da família.
O NP também entrevistou Márcia Jacintho. Mãe de Hanry Silva Gomes da Siqueira, assassinado aos 16 anos no Complexo do Lins em 2002. Ela teve de juntar provas por conta própria para provar a inocência do filho que foi morto como traficante. Em entrevista, ela revelou que foi cursar direito para conhecer os transmites da justiça e conseguir resolver o caso do filho.
Em 2009 ela ganhou a causa na justiça e provou sua inocência. Na manifestação, a mãe do jovem assassinado falou sobre sua revolta com o governador. “Eu quero impeachment, não votei nele, ninguém votou, mas podemos tirar, se a favela se juntar pode tirar, vamos pra Brasília!”, gritou Márcia.
Durante o ato, movimentos sociais e parentes das vítimas estenderam faixas com mensagens como “movimento parem de nos matar”, “mães e familiares vítimas da violência letal do Estado”. O grupo “Mães de Manguinhos” levou uma faixa com fotografias das vítimas.
Também houve uma faixa relembrando a Chacina do Borel, que aconteceu em 16 de abril de 2003. A faixa trazia a mensagem “Não nos deixaram falar, mas muitos, falarão por nós”.
“Aqui tem mulheres adoecidas pelo Estado, porque aqui ninguém nasceu com as doenças que tem hoje. Foi o Estado que nos deu depressão, síndrome do pânico, diabetes. E o Estado é representado hoje pelo governador Cláudio Castro“, disse a vereadora Monica Cunha (Psol), que acompanha o movimento que luta pelos direitos de mães que perderam os filhos para a violência.
Artistas como Malu Mader, Tony Belloto, Nicolas Siri estiveram presentes no ato, em apoio as famílias. A atriz Malu, em entrevista ao NP, se solidarizou com os familiares e disse que a sociedade civil toda deveria se solidarizar, e se organizar e cobrar o fim de “toda essa tragédia“.
“Não aguentamos mais tanta tragédia, não é possível que o estado não tome medidas efetivas pra acabar com essa situação tão trágica. Existem medidas possíveis, como na pandemia quando conseguiram impedir ações policiais injustificadas e isso diminuiu muito o número de inocentes mortos“, disse a atriz, que lamentou as vidas de crianças e adolescentes perdidas, e afirmou concordar com a implementação de câmeras nos uniformes dos policiais.
“A Polícia não pode entrar no meu prédio sem um justificativa pra isso, não pode entrar num condomínio de luxo na barra, então não se pode entrar numa favela atirando… e sabemos que 91% dessas mortes são de pessoas negras, a nossa maior chaga é racial“, disse a atriz.
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