Às vésperas da COP30, a grande conferência internacional sobre o clima que será realizada em Belém, no Brasil, um novo relatório da Oxfam Internacional revela que o estilo de vida altamente poluente dos super-ricos está esgotando rapidamente o orçamento de carbono restante do planeta, o limite de emissões de CO₂ que ainda permite evitar uma catástrofe climática. A pesquisa também detalha como os bilionários usam sua influência política e econômica para manter a humanidade dependente de combustíveis fósseis e maximizar seus lucros privados.
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O relatório “Saque Climático: como poucos poderosos estão levando o planeta ao colapso” traz dados e análises inéditos que demonstram que uma pessoa do grupo 0,1% mais rico do mundo emite, em um único dia, mais carbono do que a metade mais pobre da humanidade durante todo o ano. Se todos emitissem como o 0,1% mais rico, o orçamento de carbono seria esgotado em menos de três semanas.

Os super-ricos não estão apenas consumindo mais carbono do que qualquer outra parcela da população — eles também investem ativamente e lucram com as empresas mais poluentes do mundo. A pesquisa da Oxfam constata que o bilionário médio produz 1,9 milhão de toneladas de CO₂ equivalente por ano por meio de seus investimentos. Para gerar esse volume de emissões, seria preciso dar quase 10 mil voltas ao redor do mundo em um jato particular.
Além disso, quase 60% dos investimentos dos bilionários estão aplicados em setores de alto impacto climático, como petróleo, gás e mineração. Isso significa que suas carteiras de investimento emitem duas vezes e meia mais carbono do que o investimento médio listado no índice S&P Global 1.200. As emissões combinadas das carteiras de investimento de apenas 308 bilionários superam as emissões somadas de 118 países.
“A crise climática é uma crise de desigualdade. Os indivíduos mais ricos do planeta financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, afirma Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
O poder e a riqueza concentrados nas mãos de alguns super-ricos e representantes de grandes corporações também têm permitido a influência injusta sobre políticas públicas e o enfraquecimento das negociações climáticas. Na COP29 foram concedidas 1.773 credenciais a lobistas dos setores de carvão, petróleo e gás — mais do que o número total de representantes dos 10 países mais vulneráveis ao clima. Além disso, países ricos e grandes emissores (como Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha) afrouxaram suas leis climáticas após receberem grandes doações de grupos contrários à ação climática.
“É um absurdo que tamanho poder e riqueza estejam concentrados nas mãos de poucos — e que eles usem isso para manter sua influência e nos empurrar rumo à destruição planetária. Esses super-ricos e as corporações que comandam têm um histórico mortal de financiar lobistas, espalhar desinformação e processar ONGs e governos que tentam detê-los. Precisamos quebrar o controle dos super-ricos sobre a política climática: taxar suas fortunas, proibir seu lobby e colocar as populações mais afetadas no centro das decisões”, acrescenta Behar.
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Contexto brasileiro
Enquanto se prepara para sediar a COP30, o Brasil vivencia um cenário com alertas para as desigualdades nacionais na crise climática.
“Não podemos ignorar que a crise climática é também uma crise de desigualdade profundamente enraizada em nosso país. Os mais ricos, muitos deles ligados a setores poluentes (como o agronegócio) e à extração de recursos, emitem centenas de vezes mais do que a maioria da população, enquanto comunidades periféricas, indígenas, quilombolas e lideradas por mulheres negras arcam com as piores consequências. São elas que enfrentam enchentes, calor extremo e falta de serviços básicos, num claro exemplo de racismo ambiental”, destaca Viviana Santiago, diretora- executiva da Oxfam Brasil.
Mortes e danos
As emissões do 1% mais rico do mundo devem causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor até o fim do século, além de gerar US$ 44 trilhões em danos econômicos a países de baixa e média renda até 2050. Esses impactos atingirão de forma desproporcional quem menos contribuiu para a crise climática, especialmente pessoas que vivem no Sul Global, mulheres, meninas e grupos indígenas.









