Universidade de Brasília expulsa alunos que fraudaram cotas raciais

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UnB foi a primeira universidade federal a adotar sistema de cotas raciais UnB reserva vagas para negros desde o vestibular de 2004 Percentual de negros com diploma cresceu quase quatro vezes desde 2000, segundo IBGE

15 alunos foram expulsos da instituição por fraudarem o sistema de cotas raciais e outros 10 perderam a titulação

UnB foi a primeira universidade federal a adotar sistema de cotas raciais, em 2004 – Foto Agência Brasil

A Universidade de Brasília (UnB) expulsou 15 estudantes por fraude nas cotas raciais, esta semana. Segundo a reitoria da UnB, as investigações começaram a partir de uma denúncia do movimento negro, em 2017, mas só foram consolidadas este ano. Ainda de acordo com a reitoria, outras dez pessoas também foram atingidas e seus diplomas ou créditos foram cassados. “Nós recebemos em 2017 uma denúncia de cem eventuais fraudadores das cotas. vários nomes foram eliminados por não se tratar de fraudes e que atendiam aos critérios”, explicou Paulo César, chefe de gabinete da reitoria da UnB. 

A criação da comissão específica para avaliar os casos foi o pontapé inicial para o processo de cassação. Critérios como fenótipo, cor da pele e textura do cabelo, foram usados para estabelecer uma diretriz, definida pelo Superior Tribunal Federal (STF) para o sistema de cotas. De acordo com Paulo a expulsão dos alunos teve o aval da Procuradoria Federal, como explica o chefe de gabinete da reitoria, Paulo César. “Foi um processo disciplinar, envolveu 28 estudantes e resultou na exclusão de 15 que ainda estavam cursando, e a cassação do diploma que havia sido dado a dois estudantes que concluíram seus cursos. Outros oito que já haviam se desligado da universidade por outros motivos, mas tiveram seus créditos anulados”, informou.

Espaço de saberes

Kelly Quirino, professora da UnB, em entrevista ao Brasil de Fato, ressaltou a importância da luta da população negra por espaços de saberes. “Isso é um avanço porque as políticas de ações afirmativas é uma medida reparatória, por conta do racismo estrutural que tem aqui. Essas 15 pessoas que fraudaram, deixaram 15 pessoas negras, 15 pessoas que sofrem com o impacto do racismo na sua subjetividade, na sua auto-estima, no acesso à políticas, no acesso a direitos”, reafirmou a docente que completou. “A fraude é mais um mecanismo que impede as pessoas  negras de acessarem a universidade. Isso é uma conquista inédita e um avanço para o país, porque agora conseguimos perceber que quando há uma investigação, podemos ter uma esperança de que haja uma penalização.”

A Instituição afirmou que as investigações continuarão e que “possíveis fraudes serão punidas, para garantir esse direito, que é uma vitória do povo negro no Brasil”.

Fraudes e desculpas

Em Junho deste ano, a carioca Larissa Busch desabafou, pelas redes sociais, pedindo desculpas pela “pior escolha” que ela havia feito na vida, há seis anos. Larissa, que é branca, afirma que entrou na universidade por meio das cotas raciais, se autodeclarando parda e que a justificativa para isso seria de que sua bisavó era negra. “Acreditava que ter uma bisavó negra me tornava não branca. Eu estava errada. Eu sou uma mulher branca e tive muitos privilégios por isso”, escreveu Larissa. A jovem ainda disse que abandonou a graduação por “não conseguir carregar o peso dessa culpa”. 

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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