Um graffiti feminino, social e inclusivo

“Se a arte não for social e inclusiva, para mim, ela deixa de ter sua essência”, é assim que a artista plástica Karen Valentim define sua arte. Aos 24 anos, a jovem de origem Pataxó, moradora de Vila Velha, no Espírito Santo, grafita pelas ruas imagens de mulheres indígenas e dos povos tradicionais.

Grafite da artista capixaba Karen Valentim

Nas artes urbanas Karen, que assina como KRN, participa do projeto artístico “Elas Por Elas”, onde a artista convida outras artistas do estado para pintar murais retratando história de mulheres indígenas e negras que são parte da história de resistência ancestral das comunidades onde vivem. O projeto que começou em 2017 produziu até hoje 11 murais, em 6 bairros e 5 cidades. “A proposta principal dessa intervenção e desse projeto de vida, em si, é proporcionar junto as comunidades maior visibilidade das histórias dessas mulheres incríveis e ainda ter a oportunidade de partilhar com elas de seus conhecimentos. O mural amplia essa conexão e troca nos espaços públicos, uma relação amistosa onde pode-se abrir para conhecer mais a respeito de cada mulher homenageada. A história é viva, está viva e precisamos preserva-la”, explica a artista.

Este ano o projeto, contemplado pelo edital de Hip Hop da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, teve continuidade e pode dar sequência ao trabalho de visibilidade da história de mulheres e de povos tradicionais nas quatro regiões do estado. O “Elas por Elas” possui um trabalho voltado para as mulheres caiçaras das cidades de Vitória e Vila Velha, aprofundado na pesquisa sobre pigmentação intuitiva para pintura dos murais.

Karen Valentin pinta murais que retratam histórias de mulheres indígenas e negras

Para KRN o graffiti tem uma função inclusiva e social de dar visibilidade e reduzir preconceitos: “A arte conta uma história, em todas as suas vertentes. Um sentimento que nutre iniciativas, projetos, ações e atividades para promover mudanças em territórios muitas vezes invisíveis das cidades. Além disso, reduz preconceitos, preserva a vida e possibilita que mais crianças, jovens, adultos, e todas as pessoas que não acessam os grandes centros urbanos, galerias de arte e até mesmo a escola, tenham contato com a arte. Em alguns momentos pode acontecer a cegueira, o ponto em que a arte não executa sua função, a social, e as coisas desandam. Estamos vivendo um pouco disso”, diz KRN.

O graffiti e as mulheres

Assim como Karen Valentin, outras mulheres no Brasil utilizam a arte urbana como forma de expressão e divulgação das causas da periferia das cidades. Coma participação efetiva das mulheres no grafite, elas trouxeram para as ruas temas importantes como a violência doméstica, o abuso sexual, a ditadura da beleza e a discriminação de gênero. Uma das pioneiras do grafite feminino no Brasil é a paulistana Nina Pandolfo que, no início de sua carreira, pintava telas e, posteriormente, migrou para os murais das ruas de São Paulo uma arte que expressão crítica social e feminismo. Já quando o assunto é militância feminista no grafite, a carioca Pamela Castro, de codinome Anarkia Boladona, é uma das grandes referências. É nos princípios do feminismo que a artista, considerada em 2017, pelo canal norte-americano CNN, como a rainha do grafite brasileiro, encontra inspiração para suas criações.

Obra “Nosotras estamos en la calle 17”, de KRN

O graffiti surgiu em Nova York, nos EUA, nos anos 70 e na mesma década chegou ao Brasil. A cidade de São Paulo foi uma grande porta de entrada para esta arte urbana justamente em um período histórico conturbado e silenciado pela censura com a chegada dos militares no poder.

A arte de grafitar, um termo de origem italiana que significa a ‘escrita feita com carvão’, transformou-se então num importante veículo de comunicação urbano.

Deixe uma resposta

scroll to top