”Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, palestra trata do racismo institucional

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Mario Sá na 35ª palestra Todo Camburão tem um pouco de navio negreiro no IFMS (Campi Naviraí) Créditos: Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI)


Nesta semana, o Portal Notícia Preta foi a Mato Grosso do Sul para entrevistar Mario Teixeira de Sá Junior, criador da palestra ”Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, que trata do racismo institucional.

O conceito desse tipo de racismo foi definido pelos ativistas Stokely Carmichael e Charles V. Hamilton, dos movimentos negros norte-americano, e serve para qualquer sistema de desigualdade que se baseia em raça que pode ocorrer em instituições como órgãos públicos, governamentais, corporações empresariais privadas e universidades. Confira a entrevista:

Mario Sá na 35ª palestra Todo Camburão tem um pouco de navio negreiro no IFMS (Campi Naviraí) Créditos: Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI)

Notícia Preta: Como nasceu a palestra Todo camburão tem um pouco de navio negreiro?

Mário Sá: Ela nasce de momentos de curta e longa duração na minha vida. Começa com a minha infância, onde eu sou periférico, moro numa região de periferia do Rio de Janeiro onde a Falange Vermelha cresce, o crime organizado se desenvolve ali no início dos anos 1970. Então eu vejo meus amigos mortos ou pela polícia ou pelos desafetos do tráfico e vejo essa violência crescendo e a construção do crime organizado. Então eu vivenciei isso na minha origem. No segundo momento, a minha trajetória como professor de Direitos Humanos voltado para as temáticas raciais onde eu abordo as especificidades de como a sociedade lida com as minorias mais vulneráveis. E em um terceiro momento, uma convivência em um presídio durante um período que me levou a perceber que essa palestra caberia como um alerta a sociedade sobre a Lei de Drogas e como e a quem essa lei vem punindo.

NP: A palestra traz um viés de reflexão para a atual situação étnica no país como as questões de racismo, principalmente o institucional? Como é tratar desse assunto aqui no Estado?

Mario Sá: A palestra fala sobre o racismo institucional, mas não somente sobre isso, mas sobretudo, a todas as formas de ataques as populações vulneráveis. Nessa palestra especificamente eu gasto um tempo maior com negros, mulheres, pobres e com baixa escolaridade. Eu tento mostrar através de informes do Ministério da Justiça, o INFOPEN (Departamento Penitenciário Nacional) – que são dados quantitativos –, como esses grupos são penalizados pelo sistema. Tenho feito isso nas escolas, tem tido uma repercussão muito boa e a maioria são escolas de ensino fundamental e médio, mas também as realizo em universidades, mas principalmente nas escolas públicas. A recepção por parte dos professores tem sido boa, por parte da direção, técnicos e discentes. Cada palestra que eu tenho realizado, suscita mais uma ou duas; novos convites vão aparecendo. Então eu sinto que a palestra serve, atende a uma demanda que é discutir um pouco a questão das drogas sem uma finalidade de discutir legalidade, criminalização, descriminalização, esse não é o foco. Mas de como as lei de drogas ela traz alguns elementos que nós precisamos refletir enquanto populações mais vulneráveis que vivemos em torno ou no mundo do tráfico de drogas como acompanhantes, usuários, traficantes etc.”, afirmou Mario Sá.

Até o momento, as palestras foram ministradas majoritariamente no estado de Mato Grosso do Sul e algumas ocorreram no estado de São Paulo e seguem com a agenda lotada até o final do ano. Mario Teixeira de Sá Junior também exerce o cargo de professor Associado na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no curso de Relações Internacionais e no Mestrado de Antropologia (PPGAnt/UFGD) e é membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB).

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