Teatros públicos de BH recebem inscrições para uso até 29 de março

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Três teatros públicos de Belo Horizonte estão com inscrições abertas para serem usados por projetos artístico-culturais. São eles Francisco Nunes, Marília e Raul Belém Machado, com disponibilidade de utilização marcada de junho a dezembro. 

As inscrições, gratuitas, podem ser feitas até o dia 29 de março, na próxima segunda-feira. O intervalo de tempo para uso dos teatros poderá ser alterado de acordo com a situação da Covid-19 na capital mineira, segundo comunicado da Prefeitura. 

O edital completo e as informações para inscrições estão disponíveis no portal da Prefeitura. O processo de seleção permite participação de pessoa física, microempreendedor individual, pessoa jurídica e coletivo de artistas de pessoas físicas.

Os teatros Francisco, Marília e Raul ficam localizados no Parque Municipal, bairro Santa Efigênia e bairro Alípio de Melo, respectivamente, regiões importantes para a cultura da cidade. Porém, para a população negra, o espaço não parece ser o desafio, que vai muito além na vida artística, e toca em desenvolvimento sustentável, inclusão e participação. 

A questão econômica é a principal dificuldade para o fortalecimento do teatro negro belo-horizontino. A gente vive uma ilusão, as leis de incentivo e captação colocam que a barreira é fazer projeto mas o que a  gente enfrenta é o racismo institucional, das empresas”, explica Gil Amâncio, músico e idealizador do Festival de Arte Negra (FAN) de BH, criado em 1995, como parte da programação do tricentenário de Zumbi dos Palmares.

Legenda da foto: Músico Gil Amâncio – Foto: Gabi Guerra

RECONHECIMENTO

No teatro, a presença de atrizes e atores negros segue crescente, mas ainda longe do ideal, e em Belo Horizonte a situação não é tão diferente. Mesmo hoje sendo mais de 54 % da população brasileira, segundo o IBGE, a maioria do povo negro não se vê suficientemente incluso dentro do processo das produções teatrais.

Segundo Gil, que também é militante da arte negra em BH, o cenário em 1966, quando começou a prática teatral ainda criança, era de poucas atrizes e atores negros. “Podia contar nos dedos. Não existia texto para artista negra e negro, o único e primeiro na época foi o Márcio Alexandre que trabalhou no espétacuo “A Prostituta Respeitosa”, o primeiro ator negro de papel principal”, destaca. 

Nesse sentido, Ariane Maria Lopes, artista e estudante de Teatro, vai além dos espaços convencionais de se fazer teatro, com grandes estruturas, e procura fortalecer ações fora desse eixo, dentro das comunidades, periferias. “Vejo que há a dificuldade em reconhecer essa produção como uma produção artística relevante e urgente para aquele território, além da falta de interação e diálogo a partir desses espaços convencionais localizados nos centros e os trabalhos e públicos descentralizados”, argumenta Ariane, natural de Teófilo Otoni, interior de MG, que se mudou para BH em 2017, para cursar graduação em Teatro na UFMG.

Pesquisadora e estudante de teatro, Ariane Maria Lopes. Foto: Igor Carnevalli

Com trabalho no campo da arte e educação, atuando como contadora de histórias das mitologias africanas e afro-brasileiras e ações pedagógicas em torno da literatura negra e o teatro, dentro das escolas públicas de BH e Região Metropolitana (RMBH), a também pesquisadora resgata a necessidade da troca de experiências. “Precisamos de iniciativas de ocupação desses espaços para repensar em qual lugar os coletivos que geralmente ocupam estão localizados, qual a cor desses grupos, em qual frequência e a quanto tempo esses mesmos grupos estão nesses mesmos espaços”.

Dessa forma, Gil também ultrapassa os palcos apenas e, com a experiência em anos, vê que a garantia do público presente é você ter uma temporada, por exemplo. “Não adianta ter um mês, semana de teatro, que não garante você financiar a produção e ser reconhecido. Não só disponibilizar o teatro mas criar esse percurso para o ou a artista fazer para sua produção”, finaliza. 

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