Sob pressão da Igreja Universal, Bolsonaro quer nomear Marcelo Crivella embaixador na África do Sul

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Líderes religiosos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus sugeriram ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o nome do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, para a embaixada do Brasil na África do Sul. A proposta, que foi feita em um encontro recente de Bolsonaro com os religiosos é estratégica, já que a Igreja Universal teve diversos templos fechados em Angola após se envolver em escândalos de lavagem de dinheiro e racismo.

Crivella é sobrinho do Bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, e sua indicação seria a forma de o governo brasileiro mostrar que está prestigiando o bispo que tem em Crivella um de seus maiores expoentes na política.

O governo federal enviou um telegrama secreto às autoridades sul-africanas em busca de um “agrément” para nomear o ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella embaixador do Brasil na África do Sul. O pedido, entretanto, não significa que a África do Sul aceitará. Há casos de recusa de embaixadores. A indicação está sendo mantida sob o mais absoluto sigilo, segundo fontes da diplomacia e da política ouvidas pelo blog da jornalista Denise Rothenburg, do Correio Braziliense, e pelo portal UOL.

O governo ainda não teria divulgado a informação para evitar que o país passe pelo constrangimento de uma recusa. 

Perder igrejas no continente africano tem, aparentemente, irritado bastante Edir Macedo. Por isso, colocar seu sobrinho a frente de uma embaixada importante como a da capital da África do Sul, Pretória, facilitaria o contato e o monitoramento da igreja com relação à situação não só em Angola, mas em outros países do continente, mesmo não estando necessariamente no país do conflito.

Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Eleições 2022

Essa indicação é de total interesse de Bolsonaro uma vez que o presidente quer manter o apoio integral da Igreja para as eleições de 2022.

Edir Macedo aposta na indicação de seu sobrinho focando, principalmente, no fato de Crivella possuir, supostamente, “bom trânsito” no continente africano. Na década de 1990, o político foi enviado com a mulher e os três filhos para o Angola como missionário da Universal. Ele levou a igreja para 18 países africanos e pregou em português, inglês e zulu. Além disso, ampliou as relações com a África durante os governos petistas, quando o ex-prefeito era um bispo missionário da Universal e ministro da Pesca (na gestão de Dilma Rousseff).

O Itamaraty parece não aprovar nem um pouco a indicação. Quadros do ministério se mostram inconformados com o uso do serviço diplomático para atender a interesses privados. A ocupação do cargo por Crivella romperia uma longa tradição do Itamaraty de ocupar seus postos no exterior com pessoas da carreira diplomática.

Para completar, em Pretória, o Brasil é representado por Sérgio Danese, um dos embaixadores mais conceituados no Itamaraty. Retirá-lo para dar lugar a Crivella seria ainda um sinal de que o governo abriria mão do profissionalismo da diplomacia nacional.

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